quarta-feira, 28 de maio de 2014

NUNCA USEI RELÓGIO. O TEMPO NUNCA COUBE NUM RELÓGIO


As grandes descobertas
surgem
com a naturalidade de continuarem incertas
— ilhas  sólidas no nevoeiro.

Por exemplo:
o tempo sou eu.
Apenas eu.
Uma espécie de relógio
com pele.
pés doridos do gelo.
a mão que empurrou a porta.
acendeu a luz eléctrica.
lançou lenha na fornalha
—  e agora aqui estou estendido no divã
à espera de quê?

Dos passos que nunca ouvi
instantes de outro tempo
sem manhã
nas cinzas do relógio em ti.

José Gomes Ferreira em Poesia VI, Diabril Editora, Fevereiro de 1976

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