domingo, 7 de abril de 2024

VIAGENS POR ABRIL


         Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.

 

7 de Abril de 1974

A LEITURA do livro de Otelo, «Alvorada em Abril» permite recolher alguns episódios do «à vontade» com que os capitães organizavam a data da libertação. Encontros em jardins públicos, em cafés. Otelo passeava, de reunião em reunião, com o plano de operações, debaixo do braço, na maior das descontrações.

Quando lhe faziam reparo quanto aos riscos que corria, retorquia:

«É o melhor sítio para os guardar, porque é o último sítio onde eles se lembram de nos vir procurar».

A PIDE andava à nora e decide concentrar a vigilância sobre os movimentos de Spínola. O general poderia mover-se mas não eram os movimentos que importavam porque realizavam-se em outros quadrantes.

Não é de estranhar que Marcelo venha a dizer que nada de concreto se sabia sobre as movimentações dos oficiais.

A coordenadora do MFA decide lançar o boato de uma manifestação de oficiais em princípios de Maio.

Entretanto Melo Antunes acaba de redigir o Programa do Movimento faz Forças Armadas completado por uma comissão constituída pelo coronel Vasco Gonçalves, tenente-coronel Costa Brás, majores Vítor Alves e Franco Charais, que será entregue à apreciação separada de Spínola e Costa Gomes. A palavra «fascista», que aparece várias vezes no texto, incomoda Spínola que, entre outras, vai riscando a palavra.

AMÉRICO TOMÁS, assiste ao concerto de encerramento do ciclo de concertos gratuitos que nos últimos domingos eram apresentados no Teatro da Trindade. Segundo o Diário de Notícias a Banda da Armada tocou peças soltas de Rossini, Mussorgsky e Aughan Williams.

SEGUNDO O SÉCULO, Manuel Cabanas fez a entrega da sua arte ao povo de Vila Real de Santo António, legado que inclui inúmeros trabalhos de xilogravura  de sua autoria  e um original de Cândido Portinari. Desde a revolução de 7 de Fevereiro de 1927, Cabanas, antigo ferroviário, era um combatente contra a ditadura: «Sou um homem do povo e é com o povo que me identifico. A ele lego aquilo que representa grande parte da minha vida. Aos meus sobrinhos deixo-lhes as amendoeiras, as alfarrobeiras e a terra para suarem».

Legenda: Descarga de carvão em Santa Apolónia, 1942, de Mestre  Manuel Cabanas.

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