domingo, 21 de abril de 2024

VIAGENS POR ABRIL


                   Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                            João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


21 de Abril de 1974

Há 50 anos, o dia 21 de Abril calhou a um domingo, um dia simpático para que Américo Tomás, juntasse, no Palácio de Belém, sem  saber que o faria pela última vez, num almoço íntimo, algumas das principais figuras da vida nacional, e outras personalidades.

Para além da veneranda figura, sentaram-se à mesa, Marcelo Caetano, os presidentes da Assembleia Nacional, da Câmara Corporativa e do Supremo Tribunal de Justiça, os ministros da Defesa Nacional, da Justiça, das Finamças, o procurador geral da República, os conselheiros de estado dr. Albino Reis, prof. Costa Leite (Lumbrales), dr. Luís Supico Pinto, o governador civil de Lisboa, o deputado contra- almirante Henrique Tenreiro.

Não se sabem razões para a realização do festim, tão pouco foi pública a ementa.

Quatro dias depois deste festim, aconteceria a tal madrugada que Sophia registou para a História.

DINIZ DE ALMEIDA no seu livro Origens e Evolução do Movimento dos Capitães, regista que a redacção do programa do Movimento havia-se entretanto processado a partir de um documento inicialmente discutido entre Almada Contreiras, Martins Guerreiro e Melo Antunes.

Nessa redacção intervieram:

Pela Armada: Crespo, Contreiras, Lauret, Simões Teles, Vidal Pinho.

Pelo Exército: Melo Antunes, Costa Brás, Charais, Vítor Alves, José Maria Azevedo.

Pela Força Aérea, praticamente fora do assunto, só se fará sentir a sua opinião já no final dos trabalhos, em 24 de Abril de 1974.

A versão definitiva do programa, passada à máquina directamente pelo próprio Hugo dos Santos, ficou estabelecida em casa de Vítor Crespo, no dia 21 de Abril de 1974, domingo (epílogo das muitas reuniões efectuadas sobre o programa).

NA PRAIA DA AGUDA, em Gaia, e por iniciativa do jornal Opinião, realizou-se um jantar de homenagem  a Óscar Lopes.. A censura interveio com uma série de cortes pelo que as notícias publicadas, pouco ou nada referem. Os serviços da censura avisavam que as fotografias e as legendas da homenagem teriam que ser enviadas ao Dr. Ornelas.

EM ABRIL DE 1974, Portugal era um país onde coexistiam a maior miséria e a riqueza mais faustosa. Com oito milhões de habitantes, em cada mil crianças nascidas 56 morriam antes de completarem um ano de idade e em cada mil habitantes 15 morriam de tuberculose pulmonar. Apenas 40 por cento da população tinha água em casa e 75 por cento não dispunha de esgotos. Em cada 100 portugueses 37 eram analfabetos e em cada 100 alunos que frequentavam o ensino primário 30 não o completavam e apenas 2 por cento vinham a obter uma graduação universitária.

E havia uma guerra em África. 

Milhares e milhares de mortos, feridos, estropiados.

A Pátria não se discute, defende-se!

PASSAGEM PELO LIVRO  40 Anos de Servidão de Jorge de Sena:

«Uma vez eu, chegando a Portugal 

após muitos anos de ausência minha e alguns

de guerras africanas, encontrei uma vizinha

muito estimável que era casada com

um operário categorizado e antigo republicano.

O filho dela estava nas Africas, arriscando

a vida dele e a dos outros em defesa

do património da pátria de alguns (muito mais

que das gerações brancas que vivem nas Áfricas).

Eu condoí-me, todo embebido de noções políticas.

E ela, com um sorriso resignado, respondeu-me:

- Pois é, mas ele está a ganhar tão bem!»

EM SANTA MARIA DE BELÉM realizou-se a tradicional bênção dos bacalhoeiros, repetida todos os os anos por ocasião da partida da frota para os mares da Terra Nova e da Gronelândia.

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