terça-feira, 9 de abril de 2024

CONVERSANDO

A história conta-a Nuno Pacheco na habitual crónica, às quintas-feiras, no Público:

«Cineasta, mas também combatente activo em diversas causas que o apaixonavam (como a TAP, o rumo do Audiovisual ou a recusa do Acordo Ortográfico de 1990), A.-P.V., acrónimo por que era conhecido e mencionado, contou a história da sua vida no livro Um Cineasta Condenado a Ser Livre, uma longa conversa com José Jorge Letria (Guerra & Paz, 2016). Nele lembra uma história relacionada com a manhã do 25 de Abril de 1974, quando estava a trabalhar na revista Cinéfilo, que A.-P.V. e Fernando Lopes haviam “ressuscitado” em 1973. A dada altura, entra na redacção o homem que durante anos levava as provas do jornal O Século à censura. Inquiriu: “Tem provas?...” E A.-P.V.: “Ó senhor Joaquim, isso já acabou.” Mas o homem insistiu: “Ó senhor Vasconcelos, não brinque comigo. Olhe que eles estão lá.” A.-P.V.: “Acabou. A censura acabou. O regime acabou. Vá gozar a liberdade.” E o homem, branco como a cal, respondeu. “E agora, o que é que eu vou fazer?...” Tinha percebido que ia ficar desempregado. “Foi a única vítima do 25 de Abril por quem tive compaixão”, concluiu A.-P.V.. Talvez esta história constasse do seu documentário. Iria bem com o seu humor.

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