quinta-feira, 11 de abril de 2024

VIAGENS POR ABRIL


           Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                   João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


11 de Abril de 1974

Já são palavras de um certo estertor o que Marcelo Caetano vai dizendo aos seus ministros, aos jornalistas estrangeiros que o procuravam para cumprirem uma qualquer tarefa de propaganda.
Marcelo Caetano, em entrevista ao semanário francês Le Point, declarou que jamais concordará com o abandono das províncias ultramarinas.
«Portugal está a lutar na África em defesa de uma sociedade multirracial e contra os movimentos racistas que procuram expulsar os brancos de África.
Estamos a lutar em defesa do direito que têm todos os homens de viverem juntos na África e, acima de tudo, em defesa da sociedade multirracial que lá formámos. Pelo contrário os chamados “movimentos de libertação” são racistas. O seu objectivo é a expulsão dos brancos. Primeiro dos postos de comendo depois da própria África. Nunca negociaremos com os adversários de Portugal que, pagos por potências estrangeiras, sustentam uma luta de guerrilhas inútil e cruel.»


NESTE NOSSO REINO, as colónias nunca foram uma questão pacífica. Em A Ilustre Casa de Ramires Eça de Queiroz, coloca João Gouveia a dizer à Senhora Dona Graça:
«Tenho horror à África. Só serve para nos dar desgostos. Boa para vender, minha senhora! A África é como essas quintarolas, meio a monte, que a gente herda duma tia velha, numa terra muito bruta, muito distante, onde não se conhece ninguém, onde não se encontra sequer um estanco; só habitada por cabreiros, e com sezões todo o ano. Boa para vender.
Gracinha enrolava lentamente nos dedos a fita do avental:
- O quê! Vender o que tanto custou a ganhar, com tantos trabalhos no mar, tanta perda de vida e fazenda?!
- Quais trabalhos, minha senhora?? Era desembarcar ali na areia, plantar umas cruzes de pau, atirar uns safanões aos pretos… Essas glórias de África são balelas.»

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