segunda-feira, 14 de novembro de 2011

NÃO GOVERNA QUEM QUER


Do Diário de Notícias de 14 de Novembro de 1975:

Foi com gritos de vitória, que a comissão negociadora do Contrato Colectivo de Trabalho Vertical da construção civil,, sublinhou da varanda do palácio de S. Bento, cerca das 5,30 horas de hoje, a notícia de que a tabela salarial proposta pelos sindicatos tinha sido, finalmente, assinada. Os operários que quase enchiam o largo fronteiro ao palácio rejubilaram e gritavam Vitória! Vitória!

Neste dia, José Saramago intitula o seu Apontamento:

Não Governa Quem Quer.

E escreve:

A dura experiência ensinou esta verdade ao Almirante Pinheiro de Azevedo e aos seus desorientados ministros. O Governo, que se gabou de ter vindo para ficar, treme nos seus fragilíssimos alicerces.

Cem mil trabalhadores, pertencentes a uma das mais exploradas classes do nosso país, vieram para a rua demonstrar uma coesão que o Governo não tem e uma vontade revolucionária que precisamente o Governo andava empenhado em castrar.

O I Grande Encontro de Trabalhadores da Cintura Industrial de Lisboa aprovou a realização de uma manifestação popular unitária, como resposta imediata contra a ofensiva da direita e acções terroristas de contra-revolução.

A manifestação terá lugar em Lisboa, no próximo domingo, dia 16, concentrar-se-á no Marquês de Pombal, seguindo-se um desfile até ao Terreiro do paço.



O Secretariado Provisório das Comissões de Trabalhadores da Cintura Industrial de Lisboa apela para que as empresas façam incorporar no desfile todos o equipamento que possa facilmente circular (camionetas, escavadoras, gruas automóveis, autobetoneiras, tractores de pneumáticos, Dumpers, etc.), de forma a tornar patente a força indestrutível do trabalho e o carácter popular unitário da grande manifestação.

O Presidente Costa Gomes entendendo que é seu dever dirigir-se à Nação, num momento em que, em resultado de uma sucessão de acontecimentos de raiz  político-emocional, tende a tornar-se explosivo, apela à serenidade e à reflexão de todos os portugueses (…) sem isso, cada um de nós terá de assumir, perante a história, a responsabilidade da sua recusa.

Sem comentários: