Sempre gostei de comboios e sempre gostei de viajar de comboio.
O silêncio na carruagem apenas quebrado pela sinfonia das rodas sobre os carris.
Um livro que se lê com furtivas visitas à paisagem que vai correndo lá fora.
Há quem saiba que há livros exclusivamente para o tempo de uma viagem.
O que os comboios têm de bom é que permitem ler.
Uma tranquilidade fascinante.
Mas isto é um tempo que ficou para trás, um tempo perdido na voragem das novas tecnologias.
Viajar de comboio nos dias de hoje, é ter que enfrentar as múltiplas conversas que uma série de gente mantém ao telemóvel. Falam alto, riem alto, fazem-nos ouvir conversas que não nos interessam para nada.
Como nas salas de espectáculos, os telemóveis deviam ser desligados quando se entra num comboio.
As pessoas fizeram do telemóvel um objecto de diversão idiota.
A minha última viagem, no Alfa, entre Braga e Lisboa, foi um pesadelo e receio bem que, no futuro, viajar de comboio passe a ser isso mesmo: um pesadelo.
Os amantes de comboios terão que guardar as suas memórias, os tempos comoventes e delicados de outrora, agora que os comboios já não são o que eram.
Ou o verso tirado dum poema de que perdi nomes:
O comboio é o velho bater do coração na mão.
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