terça-feira, 29 de dezembro de 2015

OLHAR AS CAPAS


Um Natal

Truman Capote
Tradução: Rita Alves Machado e Dinis Machado
Capa: Rogério Petinga
Difel, Lisboa s/d

Doze horas mais tarde estava eu em casa, na cama. O quarto estava escuro. Sook estava sentada a meu lado, oscilando na cadeira de baloiço, um som tão calmante como as ondas do oceano. Tentei contar-lhe tudo o que tinha acontecido, e só parei quando fiquei rouco como um cão cansado de uivar. Ela passou os dedos pelo meu cabelo e disse: - Claro que o Pai Natal existe. Só que ninguém consegue fazer sozinho tudo o que ele tem para fazer. Por isso o senhor distribuiu a tarefa por todos nós. Por isso toda a gente é Pai Natal. Eu sou. Tu és. Até o teu primo Billy Bob. Agora vai dormir. Conta as estrelas. Pensa na coisa mais tranquila que conheças. Como a neve. Lamento que a não tenhas podido ver. Mas agora a neve cai das estrelas. Estrelas brilhando, neve rodopiando dentro da minha cabeça; a última coisa de que me lembrei foi da voz calma do Senhor dizendo-me aquilo que eu tinha de fazer. E no dia seguinte fi-lo. Fui com o Sook aos Correios e comprei um postal. Esse mesmo postal existe hoje. Foi encontrado no cofre-forte do meu pai quando ele morreu o ano passado. Eis o que tinha escrito: Olá papá espero que estejas bem eu tou e tou a aprender a pedalar o meu avião tão depressa que daqui a pouco tou no céu por isso fica de olhos abertos e sim eu gosto muito de ti Buddy.

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