quinta-feira, 13 de setembro de 2012

SARAMAGUEANDO


No número 3 de Blimunda, publicado no site da Fundação José Saramago, pode ler-se o texto, Jorge Amado vivo, escrito por José Saramago:

Escreverei sobre Jorge Amado como se estivesse vivo. Dizem-me que as suas cinzas, foram enterradas de baixo da mangueira a cuja sombra ele gostava de acolher-se lá no Rio Vermelho, mas cinzas, são cinzas, coisa nenhuma, muito mais têm pesado as palavras e o vento igualador, cedo ou tarde, tanto levou umas como outras. Por isso só quero falar de Jorge Amado vivo.

Um dia destes, Pilar e eu, desembarcaremos na Rua das Alagoinhas, a visitar Zélia e a família. Sentar-nos-emos de baixo da mangueira, no banco do Jorge, e eu levarei para entreter a espera, A Descoberta da América pelos Turcos. Sim não necessitam dizer-mo, o livro tem poucas páginas, não vai dar para muito, mas sendo a obra acabada que é, pode-se voltar ao princípio uma vez e muitas, que sempre o encontraremos intacto.
Se o Jorge tardar, se não vier, será apenas porque se atrasou no caminho, demorou-se a conversar com algum amigo, foi o que foi, talvez o Carybé, talvez o Calasans. Esperaremos pacientemente. Não há perigo de que não apareça. Ele está vivo.


Num artigo publicado no Público de 10 de Agosto, Os Cem Anos de Jorge Amado e Portugal, o jornalista António Valdemar conta que terá insistido em propor a candidatura de Jorge Amado ao Prémio Nobel:

Coloquei a questão, directamente, num dos almoços no pequeno restaurante do Parque Mayer. Jorge Amado de imediato interrompeu-me e advertiu: “Duvido muito. Não tenho qualquer hipótese. Deixei de ser comunista mas recebi o Prémio Estaline, a medalha Lenine, as mais altas condecorações da União Soviética e nunca eliminei essas distinções, nem da minha bibliografia nenhum dos meus livros comunistas. Por tudo isto, nunca terei o Nobel. O Nobel vai ser para saramago…”
E concretizou com veemência: “ele é comunista, mas não tem, como eu tenho, obras de exaltação comunista. É isto que interessa à Academia Sueca. O tempo dirá…”
Dois anos depois, a profecia cumpriu-se. Jorge Amado ainda conseguiu comprovar o vaticínio e… felicitar Saramago.

Legenda: Jorge Amado e José Saramago na Casa de Calazans, 1996.

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