terça-feira, 4 de setembro de 2012

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?



Wyatt Earp – Mac, já alguma vez estiveste apaixonado?
Mac – Não. Fui taberneiro toda a vida.

Diálogo de A Paixão dos Fortes de John Ford.

Esta cena passa-se no bar de Tromstone, mas não é a cena do diálogo.

Foram infrutíferas as tentativas para encontrar essa cena, a cena em que Earp, mãos em cima do balcão, garrafa de whisky no meio, um candeeiro de petróleo, está face a face com Mac e faz-lhe a pergunta:


Wyatt Earp – Mac, já alguma vez estiveste apaixonado?
Mac – Não. Fui taberneiro toda a vida.

Com A Paixão dos Fortes, John Ford regressou a um seus cenários favoritos: Monument Valley, em plena Reserva dos Indios Navajos, na fronteira do Arizona com o Utah.

Um filme de persistentes silêncios, céus rasgados.

Manuel Cintra Ferreira chamou-lhe a quinta essência do western clássico.




Nenhum filme como este nos dá a sentir o cheiro das flores do deserto e o espírito da música popular nessa sequência única na história do cinema que conduz Wyatt Earp da porta da barbearia ao cimo da colina onde tem lugar o baile. E ninguém soube filmar os bailes como Ford, fazendo de cada movimento um verdadeiro ritual.

Como escreveu Scott Eyman: 

Fonda a mover-se com o passo deliberado de uma elegante cegonha.




John Ford morreu, de cancro, no dia 31 de Agosto de 1973. Tinha 79 anos.

Uma hora antes de morrer, John Ford gritou:

Alguém tem para aí um charuto?

Deram-lhe um. Fumou-o e apagou-o. Passados alguns momentos morreu.

Pedir um charuto, os seus tão amados charutos que fumava inteiros ou metades cortadas a canivete, terão sido as últimas palavras do homem que fazia westerns, que adorava fazer filmes, mas não gostava de falar deles e, tal como disse a Peter Bogdanivich, o seu filme preferido era sempre o próximo.

Mas na vida, nos filmes de Ford, as histórias tornam-se quase todas lendárias.

Assim como, sempre, ter dito que nasceu num bar da Irlanda.

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