Mário Castrim, numa das suas críticas de televisão, publicadas no seu livro O Lugar do televisor, introduz Diógenes, e o imperador Alexandre, com este a querer ser simpático para com o filósofo, o intuito de o ajudar.
Diógenes estava sentado numa pedra, fora da sua «casa». O imperador aproximou-se, manteve com ele uma longa conversa e por fim perguntou:
-Não precisas de nada? Pede-me o que quiseres.
-Peço-te que te chegues mais para o lado para não me tirares o sol… - respondeu Diógenes.
Castrim salta depois para o que o levou a invocar a história de Diógenes e do imperador Alexandre: uma reportagem televisiva sobre os sem abrigo.
A certa altura, o projector da televisão incide sobre um velho mal coberto pelos seus cartões prensados. Pisca à luz os olhos pesados, defendidos pela mão em forma de pala. A repórter faz perguntas, ele não responde, sempre com as mãos a defender-se da agressividade do projector.
-Somos a televisão – diz a repórter, para o tranquilizar – diga-nos, o que é que mais deseja neste momento? O que é que mais quer?
- Quero que me deixem dormir – respondeu, tapando a cabeça com o cartão prensado.
Não, a resposta não é a de nenhum Diógenes filósofo. Mas é a resposta de alguém que, no fundo do poço, encontra reservas de dignidade para defender a sua condição de pessoa. Viva. Debaixo do cartão prensado.
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