segunda-feira, 11 de julho de 2011

A RAPARIGA COR DE CHAMPANHE


Marilyn Monroe morreu no dia 5 de Agosto de 1962.

Acidente? Suicídio? Assassínio?

O tempo já decorrido, ainda não deu para dissipar dúvidas, mas as pontas conhecidas do novelo, vão-se desenrolando e em cada fio ressalta, que Marilyn Monroe sabia demais e o clã Kennedy tratou de a silenciar para que John pudesse continuar a ser o Presidente dos Estados Unidos.

O filme acabou sem o beijo final.
Acharam-na morta na cama com a mão no telefone.
E os detectives não souberam com quem ela queria falar.
Foi
como alguém que marcou o número da única voz amiga
e ouve tão só a voz de um disco dizendo-lhe Wrong Number.
Ou como alguém que ferido pelos gangsters
estende a mão para um telefone desligado.(2)

Há muito que o fotógrafo Bert Stern viajava com um sonho: o de fotografar Marilyn Monroe em estado puro.

Tal como deixou escrito: apanhar Marilyn Monroe sozinha num quarto e tirar-lhe a roupa toda. Eu tinha um contrato com a “Vogue” que me dava total liberdade. E ela nunca tinha sido fotografada pela “Vogue”. E nunca tinha feito nus, desde que Tom Kelley a fotografara sobre veludo vermelho.

Conseguida a concordância da Vogue,  Bert Stern mandou alugar uma suite no “Hotel Bel-Air”, em Los Angeles.

Uma quantidade, bem generosa, de garrafas de “Dom Pérignon” e “Chateau Lafite 55”.

 Também comprimidos.

Como adereços, jóias e véus coloridos.
.
Quando viu a cena, Marilyn compreendeu logo que “Stern” pretendia “nús”. Definiu condições que não se cumpriram, mas ninguém também com isso se preocupou.

 “Porque é que a vida tem de ser tão miseravelmente lixada?, escreveu Truman Capote, no retrato que escreveu sobre Marilyn.

“Tenho a certeza que acabarei louca se continuar a viver neste pesadelo”, escreveu Marilyn ao amigo Lee Strasberg.

Conhecidas as condições em que estas fotografias de Marilyn Monroe foram tiradas, há sempre a honesta tendência para as colocar como peça não importante, qualquer coisa de cinzento e triste que apetece esquecer, desprezar.

Quando em princípios de Junho li, nos jornais, o anúncio, de que até Cascais viriam sessenta das mais de duas mil e quinhentas fotografais que, naqueles três dias e três noite, naquela suite de hotel Stern tirou a Marilyn, de imediato falei comigo e dei como garantido que os pés não se deslocariam para as ver.

Há coisas amaldiçoadas de que é conveniente fugir.

Assim haja vontade firme.

Mas há um texto (3) em que Manuel Cintra Ferreira cita o diálogo final de “Os Inadaptados”

- Como encontra o caminho no escuro?

- Seguimos aquela grande estrela. Ela leva-nos para casa”

E abre a prosa:

“O que fica de uma estrela quando explode é o brilho que nos ilumina ainda durante milhares de anos. Extinta já, a sua imagem continua a obcecar-nos e a sua luz a ser cantada pelos poetas. Numa dimensão mais terrestre e humana, a “movie star” provoca o mesmo efeito. Na constelação nascida desde o começo do século, Marilyn é a Estrela Polar”.

Seguir a estrela.

Foi isso que aconteceu.



Vinte e cinco dias passaram para que me decidisse ver a exposição.

Depois de a ver, dez dias passaram sobre se colocaria este lembrete que aqui vos deixo:

Se não viram, ainda podem ver, até domingo 17 de Julho, esta “Última Sessão”.

No Centro Cultural de Cascais, entre as 10:00 e as 18:00 horas.


(1) -  O tíítulo  é roubado a um texto de Vasco Câmara publicado na "Pública" de 5 de Junho.
(2) - Excerto do poema  "Oração por Marilyn Monroe" de Ernesto Cardinal.
(3) - "Público", 5 de Agosto de 1992.

1 comentário:

Miguel disse...

Uma Norma Jean débil, destroçada, sem ponta de confiança e auto-estima, a fazer de Marilyn, quando talvez precisasse de outra ajuda...

Mas não foi ela quem escreveu, em forma de poema, "Help, help, I feel life coming soon when all I want is to die..."?

Não sendo, nem nunca tendo sido, um fervoso adepto da Senhora, mesmo assim confesso que me senti francamente incomodado com o ar patético que ostenta em algumas fotografias.

Morreu uns dias depois, ainda a reportagem estava em fase de produção.

A "Vogue" suspendeu, por pudor, a iniciativa? O tanas...!

Chamaram-lhe "sentida homenagem".

Eu chamo-lhe oportunismo barato, ou caro, neste caso, porque Bel-Air Hotel e Dom Perignon não é para todos...

É o Mundo em que (sempre...)vivemos.

E depois queixam-se da Moody's...