Texto de Maria do Rosário Pedreira aqui:
“O País vive tempos extremamente difíceis e vai de férias ainda relativamente anestesiado, pronto para queimar os últimos cartuchos antes do choque frontal que receberá no regresso e se fará sentir sobretudo no último trimestre do ano, com a «rapina» de parte do subsídio de Natal. Para os livros, a situação é má – já se diz que fecham livrarias icónicas, que as distribuidoras começam a não pagar às editoras e que as editoras mais pequenas não terão como subsistir (e isto sem falar no aumento do IVA no livro, do qual, se calhar, não nos livramos). Li algures que o segmento de mercado mais afectado será o dos leitores ocasionais, que vão ao hipermercado comprar bens de primeira necessidade e antes adquiriam um livro por impulso, mas, com a crise, já não o poderão fazer. E tinha, apesar de tudo, alguma fé nos que têm hábitos de leitura enraizados e que, quiçá fazendo parte da classe menos afectada, continuariam a frequentar livrarias e a não resistir a uma ou outra novidade. Parece, porém, que até esses estão a criar resistência aos gastos desnecessários, conscientes de que têm lá em casa imensos livros que ainda não leram e que lhes devem dar agora, com toda a justeza, uma oportunidade. Numa conjuntura como a que vivemos, também creio que qualquer leitor que só possa comprar um livro apostará mais depressa num autor consagrado – retorno garantido – do que num principiante. Ora, dedicando-me eu há doze anos a lançar novos escritores, nunca fui de férias tão preocupada. Com os meus autores, com o meu emprego, com o que o futuro me reserva.”
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