domingo, 24 de julho de 2011

À CONVERSA...


Perguntaram-lhe:

E a morte?

Respondeu:

“Não tenho medo de morrer. Só tenho medo de ficar inutilizada ou incapacitada, mas viva. Por exemplo, o Alzheimer.
Se eu morresse agora, a última coisa que dizia para a posteridade era: “Pelo amor de Deus, não me publiquem nada que eu não tivesse já entregue para publicar. Se há coisa que me aflige imenso, são as obras póstumas. Porque normalmente a obra póstuma não presta. Se o autor não deu para publicar, é porque não quis. Ou então não teve tempo. E se não teve tempo, então não teve tempo de fazer bem como ele quereria. Normalmente, as obras póstumas são um disparate e eu estou farta de de dizer a toda a gente que nem obras póstumas, nem cartas, nada.
Só quero publicado o que está publicado ou então alguma coisa que não esteja, mas que o editor já tenha nas suas mãos. Quando vêm os filhos, os netos, os primos que descobriram na gaveta não sei quê um original, é horroroso.”

Alice Vieira, entrevista ao “Público.

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