Maria Lúcia Lepécki morreu, ontem, aos 71 anos, em Lisboa.
Nasceu em Axará, no estado de Minas Gerais, no Brasil, mas estava radicada há várias décadas em Portugal, sendo uma profunda conhecedora da literatura portuguesa.
Brasileira de nascimento e portuguesa por casamento, Maria Lúcia Lepécki estudou em Paris, foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian e professora catedrática na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Baptista-Bastos referiu-se a Maria Lúcia Lepécki como uma ensaísta notabilíssima e uma defensora da cultura portuguesa.
Em 2008, por ocasião do encontro literário Correntes d´Escritas, na Póvoa de Varzim, manifestou-se publicamente contra o novo acordo ortográfico. Afirmou então:
Eu sempre achei que o acordo ortográfico não é preciso: um brasileiro lê perfeitamente a ortografia portuguesa e um português lê perfeitamente a ortografia brasileira.
São dois artigos de Maria Lúcia Lepécki, um publicado no JL, s/d, outro no Suplemento Literário do Diário de Lisboa , 28 de Janeiro de 1982, que, de uma forma entusiasmante e entusiasmada, se referem a Levantado Chão de José Saramago e que chamam a atenção para um livro que, como anteriores livros de Saramago, andava a passar ao lado de leitores e da crítica.
Apesar dos seus receios, conseguiu transmitir todo o mágico encanto de Levantado do Chão.
Os tempos vieram dar razão a Maria Lúcia Lepecki:
Não fosse ele um texto revolucionário, documento de fé nas capacidades do homem e nas virtudes daquilo que definitivamente o hominiza: o verbo feito para produzir a verdade
Ainda do artigo do JL:
De certeza não saberei colocar diante dos meus leitores todo o mágico encanto de “Levantado do Chão” (…) O peso desta primeira saga alentejana, a sua dignidade, a sua força inibem-me. Receando perder-me em discurso afectivo, parafrásico talvez, optei pelo distanciamento. Um distanciamento sofrido longamente, pois entre a decisão de falar do livro e o instante de escrita destas linhas medeia muito mais de um ano. Período no qual “Levantado do Chão” foi livro de cabeceira, encantamento permanente, descoberta luminosa e sempre renovada. Um encontro com a beleza. Perdoe-me o Autor, desculpe-me o Leitor, se eu não souber. Fica a análise, incipiente, com as deficiências que nela sinto e vejo, com as falências inevitáveis: fique a análise como gesto de ternura para com um livro que invadiu, como poucos, a minha vida.
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