sexta-feira, 24 de setembro de 2010

UM PORTUGUÊS NA PAN-AMERICANA


Chama-se Idilio Freire e é um amigo da casa.


Na noite em que nos disse, no meio de umas fabulosas migas de bacalhau por ele confeccionadas, que ia fazer a “Pan-Americana", senti um arrepio espinha abaixo.

Pediu uma licença sabática, comprou uma “bicla” e ala que se faz tarde, pernas para que vos quero.
Tendo lido com gosto e emoção, entre outros, os livros de Emilio Salgari , reconheço que dessas enternecedoras leituras não saltou uma fagulha do chamamento daquilo a que chamam o espírito da aventura, sair porta fora, saco às costas,  em busca de...

Detesto deslocar-me. Ir a Cacilhas já me causa calafrios.

A respiração começa aos solavancos, quando se fica a saber como se percorre a estrada Pam-Americana do Alaska à Patagónia argentina, algo que lembra histórias de outro mundo.
In brief, como se diz pelos sítios em que o Idílio anda, cito do “Expresso”:
“É todo um mundo, um projecto – ou um estado de “delirum tremens”. Fazer a estrada Pan-Ameicana do Alaska à Patagónia argentina, unindo extremo a extremo do continente descoberto por Colombo, é somar 48.000 kim de estrada, através de 13 países, paisagens e climas totalmente diferentes. Da Icefields Parkway Road, no Canadá, que atravessa as Rocky Mountains ao longo de 300 kms, ao Big Sur dois EUA, na costa entre Monterey e Cambria, entre o mar e as falésias, com vistas estonteantes. Do Parque de Yellowstone às ruínas místicas da civilização maia, em Tikal, na selva tropical da Guatemala, ou em Palenque, na vasta travessia que é o México. Da América Central para a do Sul, entrando pela selva amazónica do Equador, pode cruzar o Pantanal brasileiro e descobrir inúmeras espécies animais (cuidado com os encontros imediatos com jacarés…) e encadear com a Transpantaneira boliviana (o nome diz tudo, não?), 400 km de caminho em Parque Natural. Das missões de jesuítas e do altiplano da Bolívia, a viagem prossegue pela cordilheira andina do Chile, com o regresso do alactrão para percorrer os 430 kms que separam o Deserto do Atacama de Purmamarca, na vizinha argentina. A epopeia termina na Patagónia de Chatwin, e na cidade mais austral do mundo, Ushuaia. Tenha em conta que alguns troços ficam intransitáveis na altura da estação das chuvas. Mais do que uma estrada, a Pan-Americana é uma verdaeira epopeia, de duração imprevisível.”
O Idílio começou a sua aventura em Inuvik no dia 23 de Julho, e pensa terminá-la em Setembro do ano que vem.

Tanta água que irá passar por baixo das pontes...

São 35.000 kms, uma média de 100 kms por dia, enfrentando neve, chuva e frio. 

O equipamento pesa 55 kgs, e perguntamos: como é possível?

Não é impunemente que se nasce a meio da década de 60.

Heroísmo, dizem os montanheses do Cáucaso, é aguentar um minuto mais.

O Idilio não pretende provar nada a ninguém. Apenas quer saber o que está para além do arco-íris.

Entretanto já foi tema de reportagem no “El País”.

Nasceu em Setembro de 1966 e, tal como desenhou no seu perfil,  já foi pastor, cozinheiro, agricultor, calceteiro, aprendiz de pedreiro, pintor, estudante, economista, estaticista, desportista. Curioso e viajeiro, aventureiro também. Acontece que a jornalista espanhola, deliciosamente, transformou o Idílio de pastor para sacerdote.

Uma aventura destas, “a aventura do fim do mundo e eu ouço os teus segredos mais ousados e aceito os teus desmandos e regras sem protestos”, tem  necessariamente de dar um livro e, enquanto não o temos nas mãos, podemos deliciar-nos com o relato dos dias que voam de Idílio Freire pela Pan-Americana, no seu “blog”  e ao qual deu um nome bem patusco: “Bacalhau de Bicicleta Com Todos”.

“Este blog não é de receitas (nem despesas). Pelo menos não culinárias... Pretende ser uma janela por onde espreito os meus amigos, de onde lhes acenarei e por onde vos deixarei entrar nos meus dias.”

São deliciosos os textos do Idílio, “o relato despretensioso de um biciclista que passa o tempo a pedalar, não a escrever, não a filosofar, não sociologisar, não a antropologisar.”  e maravilhosas as fotografias que nos mostra. A tal ponto que irei aproveitar algumas, e por aqui as irei apresentando, como “Idílio em Bicicleta”. Umas vezes com textos do Idílio, outras com o que calhar.

No sábado, o Idílio estava aproximar-se de S. Francisco e deixei-lhe um comentário no blog para não esquecer, tal como manda o evangelho segundo São Scott McKenzie, as flores para o cabelo.

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