sábado, 11 de setembro de 2010

ONZES DE SETEMBRO



Quando do a 11 de Setembro de 2001 um criminoso ataque terrorista, destruiu as duas torres do “World Trade Center”, vitimando cerca de três mil cidadãos de diversas nacionalidades, que acabou por ser o ponto de partido para a invasão e destruição do e com os trágicos resultados que conhecemos, já a minha memória registava um outro 11 de Setembro, o do ano de 1973 no Chile, quando a CIA fomentou apoiou o derrube do governo, democraticamente eleito, do Presidente Salvador Allende, provocando milhares de assassinatos, de desaparecidos, o exílio de mais de duzentos mil chilenos e uma feroz ditadura que durou 17 anos.
Quando ocorreu o 1º aniversário do atentado de Nova Iorque, o produtor francês Alain Brigand, pediu a 11 realizadores, de vários países, para fazerem, sobre a tragédia de Nova Iorque, uma curta-metragem de 11 minutos, nove segundos e um frame.O britânico Ken Roach, aproveitou a sua curta-metragem para colocar Pablo, um exilado chileno, a escrever e a ler uma carta de solidariedade ao povo norte-americano. Este é o começo da carta:

“Queridos mães, pais e amados daqueles que morreram no dia 11 de Setembro em Nova Iorque:Sou chileno e vivo em Londres. Quero dizer-vos que talvez tenhamos algo em comum. Os vossos entes queridos foram assassinados como os meus e na mesma data: 11 de Setembro. Terça-feira.”

E este é o seu final:

“Chamaram-me terrorista e condenaram-me a prisão perpétua sem direito a julgamento ou defesa. Fui libertado cinco anos depois mas tive de deixar o país para não pôr em perigo os meus amigos. Não posso regressar ao Chile embora não pense noutra coisa. O Chile é a minha pátria mas o que seria dos meus filhos? Eles nasceram em Londres. Não os posso condenar ao exílio como eu. Não posso fazê-lo agora mas anseio por voltar.Santo Agostinho disse: “A esperança tem duas belas filhas – a Raiva e a Coragem. Raiva pelo estado das coisas. Coragem para as mudar.”Mães, pais, amados dos que morreram em Nova Iorque:Em breve será o 29º aniversário da nossa terça-feira, dia 11 de Setembro, e o 1º aniversário da vossa. Nós recordar-vos-emos. Espero que vocês se recordem de nós.”
O escritor Don Delillo, sobre o 11 de Setembro de 2001 escreveu um livro a que deu o título: “Um Homem em Queda”:

Deixara de ser uma simples rua, era agora um mundo, um tempo e espaço de cinza a tombar e quase noite. Ele caminhava para norte através do entulho e da lama e havia pessoas que o ultrapassavam a correr, com toalhas encostadas ao rosto ou casacos a cobrir a cabeça. Tapavam a boca com lenços de assoar. Traziam sapatos nas mãos, uma mulher com um sapato em cada mão surgiu a correr e deixou-o para trás. Corriam e estatelavam-se, algumas, confusas e desajeitadas, com destroços a tombarem à sua volta, e havia pessoas a abrigarem-se debaixo dos automóveis.O rugido permanecia no ar, o ronco distorcido da queda. Agora o mundo era assim. O fumo e a cinza rolavam pelas ruas fora e dobravam as esquinas, irrompiam brutalmente às esquinas, ondas sísmicas de fumo com folhas de papel timbrado a surgirem em lampejos, folhas de formato padronizado com bordos cortantes, a pairarem, arrastadas num sopro, coisas inimagináveis na cortina de fumo matinal..
Ele vestia fato e gravata e trazia uma pasta na mão. Tinha vidro no cabelo e no rosto, bolhas marmoreadas de sangue e luz. Deixou para trás um letreiro que dizia Menu Especial Pequeno-almoço e as pessoas passavam por ele a correr, polícias e seguranças a precipitarem-se pela rua fora, a apertarem o punho dos revólveres com a mão para manterem as armas encostadas ao corpo.Era distante e silencioso, o interior das torres, onde ele deveria estar àquela hora. À sua volta é que tudo fervilhava, um carro meio sepultado nos destroços, de vidros estilhaçados e com ruídos a emergir, vozes radiofónicas a arranhar os escombros. Ele via pessoas a gotejar água enquanto corriam, roupas e corpos encharcados dos aspersores de combate a incêndios. Havia sapatos abandonados em plena rua, malas de senhora e computadores portáteis, um homem sentado na berma do passeio a tossir sangue. Copos de plástico saltitavam estranhamente de um lado para o outro.
O mundo era também isto, figuras humanas em janelas trezentos metros acima do chão, a lançarem-se no vazio, e o cheiro nauseabundo do combustível a arder, e o ar rasgado pelas sereias insistentes. O ruído estava em toda a parte para onde as pessoas corriam, o som estratificado a acumular-se em volta delas, e ele afastava-se e ao mesmo tempo mergulhava no seu seio.De repente surgiu outra coisa, exterior a tudo aquilo, não pertencente àquela esfera, lá no alto. Viu-a descer. Uma camisa tombou da muralha altaneira de fumo, uma camisa que se elevou e pairou à luz escassa e depois tornou a cair, soçobrando em direcção ao rio.As pessoas correram e depois estacaram, algumas, ali paradas, a vacilar, tentando recuperar o fôlego no ar ardente, com gritos entrecortados de incredulidade, pragas e urros perdidos, e os papéis que enchiam o ar, contratos, curricula vitae arrastados num instante fugaz, fragmentos intactos de transacções, céleres no vento.

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