sábado, 4 de setembro de 2010

A FESTA DOS SCHLUMBERGER


A edição do “Diário Popular” de 5 de Setembro de 1968, traz larga reportagem sobre a festa dos Schlumberger.

Nuno Rocha foi o “grande repórter” e Vera Lagoa, “bisbilhutando”, assina uma página inteira, que tem este começo:

“São sete horas da manhã. Acabo de chegar a casa, vinda da quinta do Vinagre. Vinda da festa que os Schlumberger ofereceram. Da festa para a qual foram convidadas celebridades internacionais. Para a qual foram convidadas celebridades nacionais.
“Podia começar por dizer que o Sol começa a nascer mesmo em frente dos meus olhos, mesmo em frente da minha janela, mesmo em frente da minha máquina de escrever. Podia. Mas já toda a gente conhece o nascer do Sol. Ninguém está interessado em saber o que avisto da minha janela. A verdade é que se espera que conte a festa. Mas também ninguém tem prazer em se sentar à máquina às sete da manhã para descrever flores, vestidos, jóias, ceias, orquestras. Sinceramente, neste momento, com o tal Sol a surgir, apetecia-me muito mais falar dele do que da noite que acabou. Mas como não é oportuno falar do Sol que a todos aquece, falarei da noite que coube aos escolhidos.”
Mais à frente, Vera Lagoa cronica que um cabeleireiro trouxe para Portugal vinte quilos de postiços e atalha: “Ora eu peguei nos meus quarenta e sete gramas de postiço platinado e fui pentear-me à Odete, do Cabeleireiro ro Amaro, fui a correr comprar uns sapatos na Lúcia, maquilhei-me na Loretti e vesti-me na Carmen Modas. Tudo nacional. As peles? Essas eram também nacionais, mas emprestadas. Fiz um vistão.”


Há-de depois confessar que tem “um bloco cheio de apontamentos, mas nem sequer tenho coragem para os consultar. Vai de cor. Talvez resulte.”


Não resultou muito bem.




Quis lembrar-se da cor do sari da Begum Aga Khan, mas perdeu-se. “Talvez fosse cor de morango. Talvez fosse outro cor de rosa" e, lamentavelmente, acabou por não ver a Mary Espírito Santo, “que foi uma das primeiras a chegar. Mas disseram-me que estava de branco e muito elegante”.

Os nomes de um ror de gente invadem a prosa de Vera Lagoa e aproveita para lembrar que a dona da casa tinha dito que “não consentiria pijamas, mas muitas calças e bermudas com túnicas apareceram.”, mas como eram “Tão bonitos ninguém se opôs a que entrassem. Apenas uma senhora foi mandada para trás. Vinha de vestido curto e casaco de fazenda. Para um baile de gala, de facto, era demais."


Mais gente, muita gente,: “Audrey Hepburn foi eleita a mais simpática. Dançou com toda a gente, foi muitíssimo gentil, deixou a melhor das interpretações. Mas Gina Lolobrigida estava pirosíssima. Sempre a achei assim, mas desta vez exorbitou. Foi, por unanimidade, eleita a mais antipática, pois recusou-se a dançar com quem não conhecia. Num baile particular, devia dançar com toda a gente. Além disso, parecia, como de costume, um reclame a produtos para desenvolvimento de certas glândulas… Também era horroroso o homem de bigode que a acompanhava.”


Chegada aqui, Vera Lagoa, está cansada.


“E vou despedir-me. Devo dizer bom dia ou boa-noite? Não sei. Por isso, o mais certo, o mais correcto, é dizer: “Até amanhã.”

(Para continuar).

Sem comentários: