Quase uma dúzia de luminárias quiseram fazer-se ouvir, em Belém, por Cavaco Silva.
Foram todos ex-ministros das finanças e têm nomes: Bagão Félix, Campos e Cunha, Eduardo Catroga, Ernâni Lopes, Jacinto Nunes, João Salgueiro, Manuela Ferreira Leite, Medina Carreira, Miguel Beleza, Pina Moura.
Claro que Cavaco também foi ex-ministro das finanças e estava na reunião nas suas diversas especialidades.
À volta de uma mesa as senhorias terão manifestado as preocupações face ao estado das contas e da economia portuguesas. Em tempo oportuno deram-nos cabo das vidas e ajudaram – e bem! – a colocar o país no fundo em que se encontra.
Pelo seu lado o ministro das finanças de José Sócrates, a 27 de Janeiro, vendia-nos que "Não há aumento de impostos, concentraremos os nossos esforços na contenção e na redução da despesa, seguindo uma política financeira de rigor", para no dia 10 de Maio contar-nos que "Se o ajustamento do défice tiver de ser feito através de um aumento de impostos, temos de recorrer a uma solução dessa natureza. Não podemos recusar ou pôr de parte toda a panóplia de soluções que serão indispensáveis".
Ao que consta, para além do aumento do IVA, e outras medidas, querem mexer no 13º mês.
Claro que já todos, pelo menos os do costume, já viram este filme e conhecem o final.
Manuel António Pina, excelente cronista do “Jornal de Notícias” conta estas coisas melhor que ninguém:
“Ficou famosa há uns anos uma notícia publicada na rubrica "Notícias militares" do extinto "Comércio do Porto" em que se informava que a esposa do comandante de um regimento da cidade dera à luz uma "robusta menina" concluindo: "Está de parabéns toda a oficialidade". Ocorreu-me este episódio ao saber do conciliábulo sobre a "situação do país" que Cavaco Silva ontem manteve com uma "brigada do reumático" de 10 ex-ministros das Finanças. Porque, se é Cavaco o "pai do monstro" do défice, como Cadilhe diz, toda aquela "oficialidade" está igualmente de parabéns pelo inestimável contributo que deu à gestação do "robusto menino" que o Orçamento há décadas embala. A julgar pelas posições públicas presentes e pelas políticas passadas de alguns deles, não é difícil adivinhar que soluções têm para a "situação do país": cortes nas despesas sociais, cortes em salários e pensões, aumento de impostos. E que soluções não têm: cortes nos escandalosos salários e prémios de gestores públicos e "boys", moralização do IRC da Banca, tributação das grandes fortunas. Era pedir de mais a tão luzida e ex-ministerial gente.”
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