sábado, 20 de novembro de 2021

ANTÓNIO OSÓRIO (1933-2021)


Morreu o poeta António Osório.

Poeta do amor e da fulguração, dos afectos e dos silêncios.

Sem ainda saber da sua morte, foi um poema de António Osório que escolhi para a apresentação da capa da revista Granta nº3. Como diz Carlos Vaz Marques no prefácio deste número da revista:

«António Osório o poeta da gratidão escolheu a Granta para retornar aos versos, após um longo interregno em prosa.»

David Mourão-Ferreira, em 1981, escreveu que «António Osório constitui um dos casos mais notáveis da moderna poesia portuguesa, já pelo tom de voluntária surdina em que a sua voz efectivamente corresponde aos valores expressos nos própios títulos dos seus livros. Com efeito, a sua poesia, partindo geralmente de uma «raiz afectuosa» que nunca deixa de mostrar-se visível ao nível do texto, afirma-se pela demarcação de um «lugar de amor» em que se patenteia uma reiterada recusa ou «ignorância da morte», graças à qual fantasticamente convivem, no espaço do poema, os mortos e os vivos, o passado e o presente, a memória e o quotidiano numa teia subtil de sugeridas relações ou de perturbantes contrapontos.»

A Raiz Afectuosa

Com os anos

a pouco e pouco

a raiz afectuosa

penetrou

no fundo da terra

até chegar

ao mais pequeno

e mais antigo

veio de lágrimas. 

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