15 de Fevereiro de 1994
O
destino, isso a que damos o nome de destino, como todas as coisas deste mundo,
não conhece a linha recta. O nosso grande engano, devido ao costume que temos
de tudo explicar retrospectivamente em função de um resultado final, portanto
conhecido, é imaginar o destino como uma flecha apontada directamente a um alvo
que, por assim dizer, a estivesse esperando desde o princípio sem se mover.
Ora, pelo contrário, o destino hesita muitíssimo, tem dúvidas, leva tempo a
decidir-se. Tanto assim que antes de converter Rimbaud em traficante de armas e
marfim em África, o obrigou a ser poeta em Paris.
José Saramago em Cadernos de Lanzarote, Volume II
2 comentários:
Estes "CADERNOS DE LANZAROTE" são pérolas (todos, creio que serão cinco mais um).
Agora estou a ler um betinho (MEC) que se julgará o Saramago (da direita), escreve bem mas só aborda temas fúteis, que, apesar de tudo, nos arrancam alguns sorrisos; assuntos sérios só muito raramente...
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