segunda-feira, 15 de novembro de 2021

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Aqui no Cais, nunca nos preocupámos com números redondos do nascimento e morte seja de quem for.

Mas por mero pormenor de andar com o Diário de Miguel Torga em releituras, deu para ver que Torga escreveu um poema escrito a 15 de Novembro de  1946, um dia depois da morte de Manuel de Falla.

O poema fez-me lembrar um velho texto dos «Clássicos do meu Pai» em que se fala do gosto que o meu tinha pelo compositor espanhol e também por Borodin:

Na Lisboa do principio dos anos 60, a oferta de Música Clássica deixava muito a desejar e, naturalmente, a Amazon era algo que ainda não tinha nascido na cabeça de um qualquer galáctico.

O meu pai tinha um gosto muito especial pelas Danças Guerreiras do Príncipe Igor.

As Danças Polovetsianas, fazem parte da ópera Principe Igor, abertura e quatro actos, de Borodin, que a não chegou a completar, tendo sido Rimsky-Korsakov que se dedicou a esse trabalho.

O interesse do meu pai não residia na ópera em si, o que, realmente o empolgava eram as Danças Guerreiras.

A única versão que, então, conseguiu encontrar foi da Deutsche Grammophon, pela Orquestra Filarmónica de Berlim dirigida por Ferenc Fricsay.

Mas tinha um óbice: era apenas tocada.

E durante mais uns anos o meu pai prosseguiu a procura das danças com coros.

Num cair de tarde de Outono, lembro-me como se fosse hoje, entrou triunfante pela casa dentro: já cá cantam! 

E num ápice, eu e o meu avô, estávamos a ouvir as Danças Guerreiras, com coros.

Simplesmente empolgante!

Com este disco passa-se uma outra história deliciosa: no lado B está El Amor Brujo”de Manuel deFalla. 

Uma noite, no cabaret Olimpia, ao lado do cinema com o mesmo nome, viu uma streapper espanhola dançar a Dança Ritual do Fogo e ficou encantado. 

Pela música e pela bailarina.

 A música adquiriu-a, a bailarina foi à vida dela.

O chamado 2 em 1: Borodin e Falla.

O disco tem esta lindíssima capa.

Trata-se de uma gravação da Decca, com a Orquestra Filarmónica de Londres, dirigida por Anthony Collins e os coros dirigidos por Frederic Jackson.

Este disco marca, também a primeira peça de Música Clássica que entrou lá em casa sem ser da Deutsche Gramophon.

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