Aqui no Cais, nunca nos
preocupámos com números redondos do nascimento e morte seja de quem for.
Mas
por mero pormenor de andar com o Diário
de Miguel Torga em releituras, deu para ver que Torga escreveu um poema escrito a 15 de Novembro de 1946, um dia depois da morte de Manuel de Falla.
O
poema fez-me lembrar um velho texto dos «Clássicos do meu Pai» em que se fala
do gosto que o meu tinha pelo compositor espanhol e também por Borodin:
Na Lisboa do principio dos anos 60, a
oferta de Música Clássica deixava muito a desejar e, naturalmente, a Amazon era algo que ainda não tinha
nascido na cabeça de um qualquer galáctico.
O meu pai tinha um gosto muito especial pelas Danças Guerreiras do Príncipe
Igor.
As Danças
Polovetsianas, fazem parte da ópera Principe Igor, abertura
e quatro actos, de Borodin, que a não chegou a completar, tendo sido
Rimsky-Korsakov que se dedicou a esse trabalho.
O interesse do meu pai não residia na ópera em si, o que, realmente o empolgava
eram as Danças Guerreiras.
A única versão que, então,
conseguiu encontrar foi da Deutsche Grammophon, pela Orquestra
Filarmónica de Berlim dirigida por Ferenc Fricsay.
Mas tinha um óbice: era apenas tocada.
E durante mais uns anos o meu pai
prosseguiu a procura das danças com coros.
Num cair de tarde de Outono, lembro-me como se fosse hoje, entrou triunfante
pela casa dentro: já cá cantam!
E num ápice, eu e o meu avô, estávamos a ouvir as Danças Guerreiras,
com coros.
Simplesmente empolgante!
Com este disco passa-se uma outra história deliciosa: no lado B está El
Amor Brujo”de Manuel deFalla.
Uma noite, no cabaret Olimpia, ao lado do cinema com o mesmo
nome, viu uma streapper espanhola dançar a Dança Ritual do Fogo e
ficou encantado.
Pela música e pela bailarina.
A música adquiriu-a, a bailarina foi à vida dela.
O chamado 2 em 1: Borodin e Falla.
O disco tem esta lindíssima capa.
Trata-se de uma gravação da Decca, com a Orquestra Filarmónica de
Londres, dirigida por Anthony Collins e os coros dirigidos por Frederic Jackson.
Este disco marca, também a primeira peça de Música Clássica que entrou lá em casa sem ser da Deutsche Gramophon.
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