terça-feira, 16 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS

 

Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa. 

Começo pelo Último Caderno de Lanzarote.

Escolho a entrada do dia 5 de Janeiro de 1998:

«Morreu a Ilda. A Ilda era a Ilda Reis, que nos tempos de rapariga começou a sua vida de trabalho como dactilógrafa dos serviços administrativos dos Caminhos de Ferro, e depois, obrigando um corpo demasiadas vezes sofredor, esforçando a tenacidade  de um espírito que as adversidades nunca conseguiram dobrar, se entregou à vocação que faria dela um dos mais importantes gravadores portugueses. Gozou dessa felicidade substituta que o êxito costuma vender caro, mas tinha-lhe fugido o simples contentamento de viver. As suas gravuras e as suas pinturas foram em geral dramáticas, cindidas, autorreflexivas, de expressão tendencionalmente esquizofrénica (diga-se sem nenhuma certeza), como se teimasse ainda em procurar uma complementaridade para sempre perdida. Fomos casados durante vinte e seis anos. Tivemos uma filha.»

Legenda: Inquietação, gravura sobre cobre de Ilda Reis, datada de 1971.

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