Dito
já que começaram as iniciativas que visam
registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei
pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um
parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo
dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam
a Biblioteca da Casa.
Continuamos
com o livro de Juan Arias O Amor é Possível.
A
pergunta do jornalista:
«A
propósito de portas que abrimos e fechamos, afirmaste também noutra ocasião que
ainda mal começaste a abrir portas da tua intimidade. Tens medo de o fazer?»
José
Saramago:
«Creio que mesmo que vivêssemos duzentos
anos, haveria portas nossas que continuariam fechadas. Porquê? Porque não
sabemos abri-las. Freud chegou para abrir umas quantas, mas é certo que não as
abriu todas, e até que chegou Freud e outros como ele, essas portas estavam
fechadas. De qualquer modo, as pessoas tinham vivido, os escritores tinham
escrito coisas magníficas, Shakespeare não tinha precisado de Freud.
Provavelmente, as portas que cada um pode abrir talvez não sejam suficientes
para poder exprimir de uma forma completa quem és, porque se pudesses abri-las
todas, algumas delas seria melhor voltar a fechá-las imediatamente porque o
espectáculo podia não ser agradável. Quem sabe se o melhor será nunca chegarmos
a dizer quem somos.»
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