sábado, 27 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Este livro que nos vai acompanhar tem muitos sublinhados e por uns dias aqui ficará.

Juan Arias, escritor e jornalista, esteve em Lanzarote no mês de Setembro de 1997, para uma longa entrevista com José Saramago e para título do livro que reúne essas conversas, escolheu O Amor é Possível.

«E isto, não só porque Saramago afirma que nos seus romances o amor é sempre possível, mas também porque, se o amor é um milagre, a literatura e a poesia, e de modo particular a poderosa literatura de Saramago, podem ser capazes de fazer que o amor nem sempre seja impossível.»

O capítulo primeiro chama-se «Vivemos para dizer quem somos».

E primeira pergunta de Juan Arias processa-se assim:

«Já que os teus leitores estão particularmente presentes na nossa conversa, poderia ser interessante recordar aqui a afirmação de que «vivemos para dizer quem somos». Se não te arrependeste de afirmar que se vive para que os outros nos conheçam, podes dizer-nos quem és?»

É esta a resposta de José Saramago:

«Penso que há que ver todas essas frases no contexto em que são ditas, porque não podemos entendê-las como se fossem uma expressão de absoluto. O pior que nós, escritores é que estamos sempre à procura de frases interessantes e quando nos fazem perguntas complicadas tentamos procurar uma resposta que seja, ou que possa parecer, original, inteligente, e até divertida. Mas é verdade que eu disse: «Vivemos para dizer quem somos», e disse-o com toda a seriedade do mundo, mas também é certo que, provavelmente, tratava-se afinal de uma tentativa de disfarçar a impossibilidade de dizer quem somos e para que vivemos, porque provavelmente, vivemos porque vivemos, sem mais. Quer dizer então que não têm sentido as referidas frases? Claro que têm?» 

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