Dito
já que começaram as iniciativas que visam
registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei
pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um
parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo
dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam
a Biblioteca da Casa.
Este
livro que nos vai acompanhar tem muitos sublinhados e por uns dias aqui ficará.
Juan
Arias, escritor e jornalista, esteve em Lanzarote no mês de Setembro de 1997,
para uma longa entrevista com José Saramago e para título do livro que reúne
essas conversas, escolheu O Amor é Possível.
«E
isto, não só porque Saramago afirma que nos seus romances o amor é sempre
possível, mas também porque, se o amor é um milagre, a literatura e a poesia, e
de modo particular a poderosa literatura de Saramago, podem ser capazes de
fazer que o amor nem sempre seja impossível.»
O
capítulo primeiro chama-se «Vivemos para
dizer quem somos».
E
primeira pergunta de Juan Arias processa-se assim:
«Já
que os teus leitores estão particularmente presentes na nossa conversa, poderia
ser interessante recordar aqui a afirmação de que «vivemos para dizer quem
somos». Se não te arrependeste de afirmar que se vive para que os outros nos
conheçam, podes dizer-nos quem és?»
É
esta a resposta de José Saramago:
«Penso que há que ver todas essas frases no contexto em que são ditas, porque não podemos entendê-las como se fossem uma expressão de absoluto. O pior que nós, escritores é que estamos sempre à procura de frases interessantes e quando nos fazem perguntas complicadas tentamos procurar uma resposta que seja, ou que possa parecer, original, inteligente, e até divertida. Mas é verdade que eu disse: «Vivemos para dizer quem somos», e disse-o com toda a seriedade do mundo, mas também é certo que, provavelmente, tratava-se afinal de uma tentativa de disfarçar a impossibilidade de dizer quem somos e para que vivemos, porque provavelmente, vivemos porque vivemos, sem mais. Quer dizer então que não têm sentido as referidas frases? Claro que têm?»
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