sexta-feira, 19 de novembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

As mãos sobre os livros de José Saramago, hoje, recaíram em O Homem Duplicado.

Estes são os sublinhados escolhidos:

«Os candeeiros da rua tinham-se apagado, o trânsito crescia a cada minuto, o azul ganhava cor no céu. Todos sabemos que cada minuto que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros, e que, para a maioria, é só um dia mais.»

(Página 34)

«Devias saber que estar de acordo nem sempre significa compartilhar uma razão, o mais de costume é reunirem-se pessoas à sombra de uma opinião como se ela fosse um guarda-chuva.»

(Página 61)

José Saramago escreveu e publicou O Homem Duplicado foi escrito num tempo em que muito se falava de clones e clonados.

Foi uma leitura difícil. Pela primeira vez comecei um livro de Saramago e não o acabei. Fui-o lendo, aos poucos, muito demoradamente e sempre com pouco entusiasmo.

Há quem pense que José Saramago só poderia escrever grandes livros.

Felizmente que assim não foi. Não seria possível.

Seria interessante?

Grosso modo, o livro conta a história de Tertuliano Máximo Afonso, um vulgar professor de História, divorciado, cansado da vida, sem distracções, nem interesse por elas. Um dia aceita a sugestão de um colega, e aluga um filme.

Repara então que um dos actores, António Claro, é uma cópia fiel da sua pessoa: voz, aparência, gestos, tudo. E decide descobrir a identidade da sua cópia, que vive na mesma cidade, mas não no mesmo bairro.

O livro é esse caminho insólito de Tertuliano até encontrar António, a sua duplicação.

Eduardo Prado Coelho, numa crítica ao livro, publicada no Público de 9 de Novembro de 2002, curiosamente, foi buscar uma velha história de Alfred Hitchcock:

«Que é um MacGuffin?
Um homem num comboio interroga outro homem sobre um pacote que tinha colocado na bagageira da carruagame. O outro responde, apontando o pacote: “Ah, isso é um MacGuffin.” O primeiro pergunta: “Mas o que é um MacGuffin?” O outro diz: “É um aparelho que serve para caçar leões nas montanhas de Adirondack.” “Mas não há leões nas montanhas de Adirondack”, observa o primeiro. Ao que o segundo retorque: “Então não é um MacGuffin.”
Donde um MacGuffin é qualquer coisa que não é verdadeiramente nada, mas que passa a sustentar um segredo. E o segredo é o que move o protagonista».

1 comentário:

Seve disse...

O HOMEM DUPLICADO foi dos livros do Saramago de que mais gostei e, curiosamente, para mim, dos mais fáceis deste grande escritor.