Dito
já que começaram as iniciativas que visam
registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei
pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um
parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo
dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam
a Biblioteca da Casa.
As mãos sobre os livros de José
Saramago, hoje, recaíram em O
Homem Duplicado.
Estes são os sublinhados escolhidos:
«Os candeeiros da rua tinham-se apagado,
o trânsito crescia a cada minuto, o azul ganhava cor no céu. Todos sabemos que
cada minuto que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros, e que,
para a maioria, é só um dia mais.»
(Página 34)
«Devias saber que estar de acordo nem
sempre significa compartilhar uma razão, o mais de costume é reunirem-se
pessoas à sombra de uma opinião como se ela fosse um guarda-chuva.»
(Página 61)
José Saramago escreveu e publicou O
Homem Duplicado foi escrito num tempo em que muito se falava de clones
e clonados.
Foi uma leitura difícil. Pela primeira vez comecei um livro de Saramago e
não o acabei. Fui-o lendo, aos poucos, muito demoradamente e sempre com pouco
entusiasmo.
Há quem pense que José Saramago só poderia escrever grandes livros.
Felizmente que assim não foi. Não seria
possível.
Seria interessante?
Grosso modo, o livro conta a história de Tertuliano Máximo Afonso, um
vulgar professor de História, divorciado, cansado da vida, sem distracções, nem
interesse por elas. Um dia aceita a sugestão de um colega, e aluga um filme.
Repara então que um dos actores, António Claro, é uma cópia fiel da sua pessoa:
voz, aparência, gestos, tudo. E decide descobrir a identidade da sua cópia, que
vive na mesma cidade, mas não no mesmo bairro.
O livro é esse caminho insólito de Tertuliano até encontrar António, a sua
duplicação.
Eduardo Prado Coelho, numa crítica ao livro, publicada no Público de
9 de Novembro de 2002, curiosamente, foi buscar uma velha história de Alfred
Hitchcock:
«Que é um MacGuffin?
Um homem num comboio interroga outro homem sobre um pacote que tinha colocado
na bagageira da carruagame. O outro responde, apontando o pacote: “Ah, isso é
um MacGuffin.” O primeiro pergunta: “Mas o que é um MacGuffin?” O outro diz: “É
um aparelho que serve para caçar leões nas montanhas de Adirondack.” “Mas não
há leões nas montanhas de Adirondack”, observa o primeiro. Ao que o segundo
retorque: “Então não é um MacGuffin.”
Donde um MacGuffin é qualquer coisa que não é verdadeiramente nada, mas que
passa a sustentar um segredo. E o segredo é o que move o protagonista».
1 comentário:
O HOMEM DUPLICADO foi dos livros do Saramago de que mais gostei e, curiosamente, para mim, dos mais fáceis deste grande escritor.
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