sexta-feira, 25 de junho de 2010

SANTOS POPULARES DE OUTROS TEMPOS


Na sua edição de 25 de Junho de 1899, o “Diário de Notícias”, dava conta de como tinham sido, em Lisboa, os festejos da noite de São João.

Uma prosa deliciosa.
Manteve-se a ortografia da época, que fala de idas às hortas, canto de rouxinóis e de melros, petiscos à portuguesa, o sol a dourar o cume das árvores, gemidos de guitarras.

 O repórter não fala de vinho mas, calcula-se, que tenha corrido em abundância, enquanto as senhoras se ficaram, possivelmente, por capilés e salsaparrilhas.

O Santo Precursor quis offertar-nos hontem um dia delicioso, cheio de sol, de luz, de amoor… As ruas regorgitaram de transeuntes, a Avenida, S. Pedro de Alcantar, Algés, Campo Grande, emfim, todos os sítios onde se podia passear, estiveram animadíssimos, vendo-se numerosos grupos de pessoas em que as “toilettes” claras das damas se combinavam graciosamente com os “cheviotes” de tons brancos dos cavalheiros e os vestidinhos brancos dos bebés. Muitas famílias aproveitaram também o dia para irem para o campo em alegres caravanas, e o movimento nas linhas férreas das proximidades da capital foi de mais de 20.ooo passageiros. O elemento popular divertiu-se, indo para as hortas gosar nas frescas sombras o dia santificado, entre o gorgeio dos rouxinoes e o canto alegre dos melros e uns belos pitéus cozinhados genuinamente à portugueza, n’um meio calmo e campesino. E emquanto o sol resplendente dourava o cume das árvores e dos montes circunvizinhos, o espírito popular espraiava-se muitas vezes ao som dolente da guitarra no genuíno fado tradicional.”

Legenda: “Bal au Moulin de la Galette”, pintura de Pierre-Auguste Renoir

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