Sou
do tempo em que era proibido pisar a relva dos jardins, jogar à bola na rua,
mas havia outras possíveis e diversas brincadeiras.
Um
tempo em que as avós, as mães diziam aos gaiatos: «vai brincar lá para fora».
Agora ficam em casa agarrados a um telemóvel a fazer jogos, a ver e ouvir o que,
por vezes, não se sabe o quê.
José
Saramago em As Pequenas Memórias:
«Então digo à minha
avó: «Avó, vou dar por aí uma volta.» Ela diz «Vai, vai, mas não me recomenda
que tenha cuidado.»
Nos
dias de férias de Natal, Carnaval, Páscoa, que passava em casa da minha avó
paterna, na Rua da Senhora do Monte, saía porta fora e percorria as ruas da
Graça, olhava o abundante comércio local, lembro uma pequeníssima tipografia,
compunha folhetos para festas e bailes, cartões-de-visita, e ficava por ali a
ver as máquinas, aqueles trabalhos, conheci a Vila Berta, a Vila Sousa, perdia
largos tempos no Miradouro junto à igreja da Graça, hoje Jardim Sophia de Mello
Breyner Andresen, ou no Miradouro da Senhora do Monte, a olhar a cidade.
Ainda Saramago: «Nesse tempo os adultos tinham mais confiança nos pequenos a quem educavam.»
Algo
que os miúdos de hoje não sentem: saudades de brincar na rua.

Excelente, partilha.
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