Contos
Eça de Queiroz
Fixação do texto
e Notas de Helena Cidade Moura
Capa: Lima de
Freitas
Livros do
Brasil, Lisboa s/d
A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha,
murmurou:
- Oh mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda
tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar!
E a mãe, em soluços:
- Oh meu filho como te posso deixar! Longas são as
estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens.
Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me
ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a
morada do doce rabi.
Oh filho!
Talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e os
fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu
a esperança dos tristes.
De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres
mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:
- Mãe, eu queria ver Jesus...
E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus
disse à criança:
- Aqui estou.

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