Escrevi pouco e agradar-me-ia ter escrito menos.
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
V.S.T. & ETC
Pergunta ao
Vitor em que rua ele mora e ele dá corda aos sapatos:
Rua das Madres.
Toda a minha família estava ligada ao mar e ao rio. O meu bisavô materno,
pescador, tinha o seu bote, o pai dele tinha vindo de Olhão, era gente lá dos
Algarves. E com os outros homens – que tinham os botes e passavam o pessoal do
trabalho de um lado para o outro do rio, isto quando não havia ainda
cacilheiros – vai formar a Cooperativa dos Catraeiros, que em conjunto compra o
primeiro cacilheiro. O meu tio-avô, filho dele, portanto, foi um dos primeiros
mestres dos cacilheiros. Eu era puto.
Pr’aí nos princípios dos anos 40. Ele a guiar e eu ao lado, ainda nem sabia quem era o Vasco da Gama, mas se soubesse ia de certeza ao lado do Vasco da Gama.
Depois, a minha pobre mãe também trabalhava como carne para canhão do lado de lá, quer nas fábricas das anchovas, num sítio chamado Olho de Boi, quer nas chamadas fábricas dos gelos, estão ainda lá os armazéns. Muitas vezes eu fazia pressão para ir com ela. Nasci em condições de muita miséria naquela casa. Fui o décimo terceiro. Parece impossível como estavam lá 12 pessoas quando eu nasci, mas estavam. Gostei muito do Pacheco e da “Comunidade”, na “Crítica de Circunstância”, por haver certos paralelismos. Lá estava a filharada do Pacheco a dormir nas gavetas da cómoda, ou em cima do papel, porque o papel é um bom condutor do calor, quando eu também, no meio do chão, no linóleo, estava ali rodeado de mãe, avó e tias.
Pr’aí nos princípios dos anos 40. Ele a guiar e eu ao lado, ainda nem sabia quem era o Vasco da Gama, mas se soubesse ia de certeza ao lado do Vasco da Gama.
Depois, a minha pobre mãe também trabalhava como carne para canhão do lado de lá, quer nas fábricas das anchovas, num sítio chamado Olho de Boi, quer nas chamadas fábricas dos gelos, estão ainda lá os armazéns. Muitas vezes eu fazia pressão para ir com ela. Nasci em condições de muita miséria naquela casa. Fui o décimo terceiro. Parece impossível como estavam lá 12 pessoas quando eu nasci, mas estavam. Gostei muito do Pacheco e da “Comunidade”, na “Crítica de Circunstância”, por haver certos paralelismos. Lá estava a filharada do Pacheco a dormir nas gavetas da cómoda, ou em cima do papel, porque o papel é um bom condutor do calor, quando eu também, no meio do chão, no linóleo, estava ali rodeado de mãe, avó e tias.
As condições em que nasci e cresci eram tão dramáticas que isso podia ter, e de que maneira, retorcido completamente a minha psique, a minha pessoa. Isso não se deu porque fui tão protegido, gostado, apalpado, acarinhado, tão com-todos, que a minha mãe deixava-me indistintamente em casa de A. e da mulher do sapateiro.
A minha avó ia comigo à sopa dos pobres, ali aquele edifício em frente ao Parlamento, buscar a sopa e o pão escuro que muitas vezes era a base da alimentação. E há um pormenor completamente surrealista. Na casa onde ainda hoje vivo só há um objecto do que era a casa velha. É um relógio de cavalinho. Está lá na parede. É um daqueles relógios que parecem uma pequena catedral que tem um cavalinho por cima. Uma peça muito bonita que faz um cagarim doido ao tocar. Toda a gente olha para ali e diz: “É um relógio.” E eu digo: “Não senhora.” Como tenho esta costela surrealista, digo: “Aquilo que ali está na parede é uma panela de sopa.” “Uma panela de sopa?” “Tal e qual.” Porquê? Como era o único bem que havia naquela casa, o sacana do relógio semana-sim-semana-não estava no prego, que ficava na Rua da Esperança. Lá ia o relógio para o prego e nessa noite havia sopa de hortaliça com chouriço de sangue. Era uma festa. O relógio servia para isso.
A minha mãe ficou muito marcada pela memória dessa extrema miséria, porque não me pôde dar o apoio que as mães gostam de dar aos filhos.
A minha avó Arminda, por quem tenho total devoção, tinha como alcunha na Madragoa a Viúva Alegre. Acontece que a minha avó nunca casou. E era amiga íntima de uma outra chamada Rosa das Sardinhas, avó do Henrique Viana. A minha avó fazia tudo, Cantava o fado com um irmão pelas tabernas, empalhava cadeiras, cosia as velas das fragatas no Largo Vitorino Damásio... havia lá uma casa com um grande passeio em frente, onde o mulherame de gatas cozia com umas agulhas de osso e corda muito forte os remendos das fragatas... e também lavava a roupa para as vizinhas no lavadouro que ainda existe ao cimo da Travessa do Pasteleiro. É Zola. Eu saía de casa, de pé descalço, claro...
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Luiz Pacheco,
Vitor Silva Tavares
OS IDOS DE SETEMBRO DE 1975
30 de Setembro
de 1975
No mesmo dia em
que as forças do COPCON ocupam as estações de rádio e televisão, uma enorme
multidão junta-se nos Restauradores, junto ao Palácio Foz para protestar contra
a decisão de Pinheiro de Azevedo.
Os militares
continuam nas estações de rádio e televisão. Mas a Rádio Renascença, ocupada
pelos trabalhadores, em Lisboa – deixou de emitir, na sequência de uma operação
ordenada por Pinheiro de Azevedo e que os Comandos executaram pelas quatro
horas da madrugada.
Otelo dirige-se
ao Palácio Foz para, juntamente com o ministro da Comunicação Social Almeida
Santos explicar aos órgãos de informação os motivos da decisão do primeiro
ministro e Presidente da República e, à chegada, é insultado pelos
manifestantes.
Almeida Santos
diz que a situação ficará normalizada em 48 horas se os jornalistas cooperarem.
Na conferência
de imprensa, Otelo, faz a célebre autocrítica donde ressalta a frase de que se
tivesse uma estrutura política poderia ter sido um Fidel de Castro da Europa.
Legenda: A verdadeira Questão, local, não
assinada, no Diário de Notícias.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
QUOTIDIANOS
Dizia-se um idealista. Não sabia para onde ia mas
dizia que já ia a caminho.
Legenda: fotografia de Johnny Holland
Legenda: fotografia de Johnny Holland
CAIS
«… o cais é uma saudade de pedra».
Partem navios
e chegam navios
de todos os
pontos cardeais,
só eu fiquei
sonhando os
orientes
no cais.
Outros
partiram...
- Tantas vezes
me chorei perdido
e vencido me
arrastei
ao sabor das
tempestades e dos fados...
Tantas vezes fui
o herói da aventura,
o navio
naufragado...
e sempre
ressuscitei
no cais.
Que em mim vive
esta ânsia
sempre nova
da largada.
Eu não amo o que
possuo,
o que sou
não é jamais
onde estou;
eu sou o ausente:
a posse deixa-me
inerte,
só o desejo me
abraza...
Só eu fiquei
com saudade de
mim
nunca
embarcado...
Legenda: fotografia de Artur Pastor
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Artur Pastor,
Barcos,
Joaquim Namorado Poemas
terça-feira, 29 de setembro de 2015
POSTAIS SEM SELO
Ana Hatherly em 351 Tisanas
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Ana Hatherly,
Postais Sem Selo
OS IDOS DE SETEMBRO DE 1975
29 de Setembro
de 1975
FORÇAS MILITARES
ocuparam esta manhã as instalações de Rádio e da Televisão.
Na ausência de
Costa Gomes, em visita oficial à Polónia e à União Soviética, a decisão foi
tomada pelo Almirante Pinheiro de Azevedo.
Primeira página
do Diário de Lisboa:
Primeira página
do Diário Popular:
OS MINISTROS só
conseguiram abandonar São Bento após uma intervenção de forças dos Comandos que
desalojaram os deficientes do cerco que faziam um bloqueio ao edifício. Em
protesto, os deficientes colocaram a bandeira da Associação a meia haste e deslocaram-se
ao Regimento de comandos na Amadora, ali deixando 19 cadeiras de rodas e
algumas próteses.
APÓS LARGA E
VIBRANTE reunião do Conselho Nacional do PPD, Sá Carneiro reassumiu as funções de
secretário-geral do partido.
A DIPLOMACIA
ESPANHOLA avalia que ascendem a 500 mil contos os estragos causados no assalto
à embaixada e consulado de Espanha em
Lisboa.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
V.S.T. & ETC
A jornalista pergunta-lhe:
Eu tinha vindo lá das Áfricas, em parte do jornalismo, no tal jornal “O Intransigente”, de Benguela, posto que tivesse outras profissões, fui para lá um aventureiro. E chego a Lisboa com a determinação, desse lá por onde desse, de nunca mais servir qualquer patrão ou fazer aquilo que não queria, de que não gostasse. Nunca mais. Disse o corvo e disse o Vítor. Pronto.
E regressei portanto para a minha função de pardal, que sou lisboeta tipo pardal. E para subsistir escrevia indistintamente ou contarelos para o “Diário Popular” ou pequenos textos para a “Crónica Feminina” ou crítica de cinema para a “Flama”, ou crítica de cinema para o então “Jornal de Letras e Artes”. E comecei a dizer “não” a uma quantidade de coisas. Empregos, por exemplo, publicidade: “jamais de la vie”. Não era comigo. E andava assim em pardal, saltitando daqui para acolá, palmilhando Lisboa como hoje – sou pedestre –, quando aparece uma proposta que era nem mais nem menos que ir dirigir a editora Ulisseia.
A Ulisseia!, que era a editora que eu, enquanto leitor, na altura ainda com algum dinheirito para comprar livros, mais apreciava, com direcção do Figueiredo Magalhães, que ainda é vivo. Grande editor. Não me deve chupar nem à lei da bala, porque eu é que fui suceder-lhe, digamos. Mal sabe ele a admiração que tinha por ele, e mal sabe ele que ao suceder-lhe não tive outro propósito senão garantir àquela editora o mesmo nível cultural, artístico que o velho Figueiredo Magalhães tinha dado.
Ora o José Cardoso Pires estava ligado à Ulisseia, que era a produtora dessa publicação “sui generis”, espantosa que foi o “Almanaque”.
Quando chego à Ulisseia, meti condições que não dá para acreditar, porque eu não acreditava nada que de repente trocava os cem paus, ou os noventa paus, que me pagava o “Diário Popular” por uma colaboração, e de repente estava à frente, como director editorial, de uma editora como a Ulisseia. Era demais.
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Vitor Silva Tavares
QUE LHE PARECE?
Antonio
Tabucchi, que assina o prefácio da edição francesa de The Fragments,
escreve que no interior deste corpo vivia a alma de uma intelectual e poeta
de que ninguém tinha um pingo de suspeita.
Na Autobiografia de Marilyn Monroe, Rafael Reig
cita:
Sim, lei muito. Toda a gente está convencida de que
sou praticamente analfabeta. A loura burra que eu, aqui entre nós, nem sequer
seja totalmente loura. De gve ser por causa das minhas mamas. Como são muito
volumosas, devem julgar que tampam metade do livro e que, por isso, não consigo
compreender nada do que elio. Não sei, mas a verdade é que leio muito. De tudo,
seja o que for: romances, poesia, filosofia, de tudo.
Leio até os folhetos dos medicamentos. Passo as noites
quase sempre acordada a ler. A ler ou a flar ao telefone. Também gosto de falar
ao telefone. É porque me custa muito a adormecer. Mas, claro, isso está você
farto de saber. É por isso que estou aqui. Passei a vida a tentar conciliar o
sono. Esse poderia ser um bom epitáfio para a minha sepultura. Mas já escolhi
outro. Quero que ponham apenas isto:
«Aqui jazz Marilyn Monroe 95-58-91.»
Que lhe parece?
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OLHAR AS CAPAS
Afirma Pereira
Antonio Tabucchi
Tradução de José
Lima
Capa: Rogério
Petinga
Quetzal
Editores, Lisboa, 1995
Mas não disso nada disso. Acendeu um charuto, limpou
com o guardanapo o suor que lhe escorria da testa, desabotoou o primeiro botão
da camisa e disse: as razões do coração são as mais importantes, é preciso
seguir sempre as razões do coração, os dez mandamentos não dizem isto, mas
digo-lhe eu, mas é precisos ter os olhos abertos, apesar de tudo, coração sim,
de acordo, mas também olhos bem abertos, meu caro Monteiro Rossi, e com isto
acabou-se o nosso almoço, nos próximos três ou quatro dias não me telefone,
deixo-lhe todo o tempo para reflectir e para fazer uma coisa bem feita, mas
mesmo bem feita, ligue-me no próximo sábado para a redacção, por volta do
meio-dia.
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Rogério Petinga
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
POSTAIS SEM SELO
Não há qualquer causa pela qual esteja disposto a
matar. Mas há causas pelas quais estou pronto a morrer.
V.S.T. & ETC
Em Julho de
2007, Alexandra Lucas Coelho fez a Vitor Silva Tavares, uma importante e lindíssima
entrevista, enternecedora mesmo. Está lá tudo.
Chamou-lhe Resistência
é a Palavra,
A entrevista foi
publicada no Público de 7 de Julho e, mais tarde, incluída no volume & etc uma Editora no Subterrâneo.
Iremos
acompanhar alguns excertos da entrevista e, naturalmente, começamos pela
abertura:
É lisboeta
“pardal”, de palmilhar a cidade a pé. Foi miúdo descalço na Madragoa, uma
pobreza de se pôr o relógio no prego para haver sopa de hortaliça numa casa com
13 pessoas. É nessa casa que continua a viver, e o relógio ainda lá está.
Entre o prego e 2007, as aventuras dão para uma conversa que não acaba, a que
ele vai tendo com os próximos, sem pensar em escrever memórias. A sua escola de
jornalismo, muito antes do “Diário de Lisboa”, é a do “Intransigente”, de
Benguela, onde também foi inspector de cartas de condução sem saber conduzir e
mudou os nomes todas da cidade numa noite de subversão, o que lhe valeu ter um
agente da PIDE à perna, de seu nome Delgado.
Partiu de Angola em risco de ser preso, deixando um 45 rotações de Mahalia Jackson a um contratado do interior que o levou para onde nunca mais terá sido ouvido.
De volta a Lisboa, distribuiu colaborações pelos jornais enquanto, ateu dos quatro costados, pintava Cristos que um “manager” vendia a conventos. Não sabe por onde andará essa extensa obra pictórica.
Depois convidaram-no a dirigir a editora Ulisseia, onde começou a publicar surrealistas portugueses, “nouveau roman” francês e obra de muita indignação para a censura. Os livros eram apreendidos, mas aparentemente a Ulisseia era mesmo para dar prejuízo ao dono, a Abel Pereira da Fonseca.
Gosta de coisas tão antigas como letras de tipografia e histórias a circular pela boca. De fazer coisas porque apetece, e porque tem de ser, e porque é assim. A porta aberta é para entrar e para sair, o importante é que esteja aberta.
Naetc não há lucros e há livros quando houver. Tem havido regularmente, e cá estão eles a toda a volta deste subterrâneo com pátio de azulejo antigo e escadinha de ferro, ali onde o Bairro Alto cola com a Bica, muito lisboeta.
Partiu de Angola em risco de ser preso, deixando um 45 rotações de Mahalia Jackson a um contratado do interior que o levou para onde nunca mais terá sido ouvido.
De volta a Lisboa, distribuiu colaborações pelos jornais enquanto, ateu dos quatro costados, pintava Cristos que um “manager” vendia a conventos. Não sabe por onde andará essa extensa obra pictórica.
Depois convidaram-no a dirigir a editora Ulisseia, onde começou a publicar surrealistas portugueses, “nouveau roman” francês e obra de muita indignação para a censura. Os livros eram apreendidos, mas aparentemente a Ulisseia era mesmo para dar prejuízo ao dono, a Abel Pereira da Fonseca.
Gosta de coisas tão antigas como letras de tipografia e histórias a circular pela boca. De fazer coisas porque apetece, e porque tem de ser, e porque é assim. A porta aberta é para entrar e para sair, o importante é que esteja aberta.
Naetc não há lucros e há livros quando houver. Tem havido regularmente, e cá estão eles a toda a volta deste subterrâneo com pátio de azulejo antigo e escadinha de ferro, ali onde o Bairro Alto cola com a Bica, muito lisboeta.
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Alexandra Lucas Coelho,
Vitor Silva Tavares
OS IDOS DE SETEMBRO DE 1975
28 de Setembro
de 1975
O VERÃO QUENTE
DE 1975 teve aspectos dramáticos, mas nenhum terá sido tão dramático como a
pilhagem da Embaixada e do Consulado de Espanha em Lisboa.
Os edifícios foram
completamente destruídos na sequeência de uma manifestação convocada, durante a
madrugada do dia 26 de Setembro, por um comunicado da UDP, transmitido aos
microfones do Rádio Clube Português. O comunicado apelava para uma concentração
popular frente à Embaixada de Espanha com a finalidade de protestar contra as
condenações à morte dos militantes da ETA julgados em Burgos e Madrid, por
tribunais onde os advogados de defesa não puderam exercer os seus direitos.
Um novo
comunicado, transmitido às cinco horas da manhã, refere os acontecimentos:
Foi um gesto de solidariedade para com os povos de
Espanha de que o nosso povo se orgulha! Temos de continuar a luta!
Às 5 horas da manhã ainda são horas de estar a pé e de
continuar a luta caso os carrascos assassinem os nossos queridos camaradas!
Que o fascista Franco pague bem caro pelos seus
crimes.
OUTRO
ACONTECIMENTO contribui para a instabilidade política: o cerco dos deficientes
das Forças Armadas a São Bento.
Através dos microfones
da Emissora Nacional, onde mantêm um “piquete de ocupação”, os dirigentes
associativos dos deficientes fizeram um apelo a todos os elementos das barricadas
das portagens de Sacavém, Vila Franca de Xira e Ponte Sobre o Tejo para que
convergissem de imediato para São Bento.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
NAQUELE TEMPO...
Primeiro em
francês:
En ce temps-là
le désert etait peuplé d’anachorètes.
Depois, acrescentava a sua tradução que, dizia o pai do Gin-tonic, não tinha a beleza do original:
Naquele tempo o
deserto era povoado por anacoretas.
Considerava-o o
mais belo e cativante começo de um livro que conhecia.
E conhecia
centenas.
OLHAR AS CAPAS
Thais
Anatole France
Tradução: Manuel
de Freitas
Capa: Tadeu
Barros
Edições
Antígona, Lisboa, Setembro de 2003
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Anatole France,
Manuel de Freitas,
Olhar as Capas
domingo, 27 de setembro de 2015
POSTAIS SEM SELO
Para mim, é como discutir a diferença entre o
McDonalds e o Burger King. Tenho a certeza que há-de haver uma diferença, mas
quem é que se vai ralar-se a descobrir qual é?
O QUE VIEMOS AQUI FAZER?
Estacionas o carro em frente à praia:
- O que viemos aqui fazer?
- Visitar um morto.
Walter Benjamim chegou a Portbou no dia 26 de Setembro
de 1940, depois de atravessar os Pirinéus a pé, fugindo aos nazis. Queria
alcançar a América, onde ia trabalhar como investigador, mas a polícia
espanhola não o deixou passar, deu-lhe apenas uma noite de o recambiar como
judeu. Benjamim estava doente, sozinho e perdera tudo. Alojou-se numa pensão
que já não existe. Tomou uma sobredose de morfina. Na manhã seguinte foi
encontrado morto.
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Alexandra Lucas Coelho,
Walter Benjamin
PORQUE HOJE É DOMINGO
O Verão já lá vai.
Colocar aqui uma boa parte dos discos que estavam na Juke Box da Esplanada do Marques na Trafaria é algo que levaria muitos domingos.
Este é o último domingo de Setembro e Cachito do Nat King Cole é a canção que vos trago.
No próximo Verão, voltaremos às grandes canções da Esplanada do Marques.
Bom domingo!
sábado, 26 de setembro de 2015
POSTAIS SEM SELOS
Que bom não ter
de dar pelo nome de crítico – mas possuir só, para esgotar, um momento crítico,
uma vida extremamente crítica.
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Herberto Helder,
Postais Sem Selo
OS IDOS DE SETEMBRIO DE 1985
GRANDE
MANIFESTAÇÂO DOS SUV em Lisboa. Mais de 100 mil pessoas, segundo os jornais.
O ponto mais alto da
manifestação verificou-se de madrugada quando, face àpressão dos populares, Otelo, deu ordem para que fossem libertados o cabo Pinto e o Furriel Figueiredo.
OPINIÃO, não
assinada, sobre os objectivos dos SUV, publicada na Vida Mundial:
NAS VÉSPERAS DE
regressar à liderança do PPD, de que se afastou por doença durante largo tempo,
Francisco Sá Cerneiro, realizou uma conferência de imprensa e em que contesta,
fortemente, as posições do Almirante Pinheiro de Azevedo no que à
social-democracia diz respeito:
Em Portugal não pode ser-se assumidamente
anticomunista mas parece dever ser-se anti-social democrata.
O DITADOR FRANCO
apresentou um protesto formal às autoridades portuguesas e mostra-se indignado
com o noticiário dos jornais e da Emissora Nacional. Está iminente o anúncio da
confirmação da sentença de morte contra os presos da ETA condenados pelos
tribunais ao garrote.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
V.S.T. & ETC
A Colecção &etc não está numerada.
Mas Coisas, um volume colectivo,
é o primeiro livro editado.
Vi o anúncio da
sua publicação na folheca nº 18, Dezembro de 1973.
Fiquei atento.
Mas à cautela pedi ao Carlos Porto, um dos autores antologiados, por esse tempo
colaborador do República e um dos donos da Livraria Opinião, que
me reservasse, logo que desse à luz, um exemplar.
Foi assim que o
livro chegou às minhas mãos.
Tanto quanto me
lembro, o livro não teve distribuição pelas livrarias.
Ainda existia a
censura e a PIDE e era necessário tomar cautelas e caldos de galinha.
Os textos são da
autoria de Adelino Tavares da Silva, António Manaças
Baptista-Bastos,
Carlos Porto, José Martins, Nelson de Matos, Paulo da Costa Domingos, Pedro
Oom, Virgílio Martinho e de Vitor Silva António Manaças.
Cada texto é antecedido de um desenho.
Os desenhos são
da autoria de Ferreiro, Eurico, Lud, com dois desenhos, Figueiredo Sobral, João Rodrigues,
Ana Machado, Gonçalo, Aurélia e Aldina.
Ao tempo da
publicação de Coisas a &etc situava-se na Rua da Mãe d’Água nº 13-2º.Dtº.
A dedicatória do Vitor Sila Tavares, é colocada no livro, mais mês menos mês, quarenta anos depois da sua publicação.
O texto do Vitor Silva Tavares, publicado em Coisas, termina assim:
Que tal um lar saudável com espaços verdes à volta (na
famosa costa do sol)? Nos subúrbios, tanto ranho nas ventas da criançada!
Maria, vaza o penico. Morre-se confortado pela Santa Madre Igreja. Os mortos
têm todo o tempo a seu favor. Que excitação para os pequeninos espectadores!
BIB BIC BIC, a minha terceira escrita. Sofro de cancro na bic. E na tola. E
enfim. E mais um automóvel: o
Marine é de facto um carro a sério, um fora de série, e por isso dizemos que é
tudo quanto se pode desejar num automóvel. Pois pois. Quem sabe comprar,
sabe pagar! Segue-se um programa de variedades. Poetas doidos rebentam de sonho
e fel nas noitadas a bagaço e cervejame. Como é triste Veneza ll n’y a plus
rien. Para o mês que vem veremos. Cá vamos chorando e rindo. Tanta conversa
fiada dá-me cabo da molécula. Assim como assim. Tive uma ideia maluca para pôr
aqui. Esqueci. Bebi. Cichi. (…)
«Imoderato chorabile» é um excerto (ex
certo) do texto
«Falar desta castração», escrito no
Verão de 1972 e con-
servado
(ainda bem!) inédito.
CONVERSA A SÓS
Olha, Mila, a
montra está cheia
de chocolates pequenos.
Talvez o Pessoa tenha escrito aqui
a Tabacaria.
Talvez vão dizer que está tudo dito
e o mais que eu mostro é habilidade.
Talvez que um dia, como tu dizes,
as escolas me recebam de novo
e eu aprenda verdadeiramente
como se diz amor em inglês.
Olha, Mila, para falar a verdade
eu estou muito esquecido dessas coisas
e todos os livros que li sobre a memória
não me deram memória nenhuma.
Para imitar o Pessoa, digo:
Precisamente neste momento
entrou aqui um jovem e pediu: - Licor!
Isso prova
que o amor é diferente para toda a gente.
Isso prova que o sangue do jovem não chega
para que ele se sinta cheio e à vontade.
Isso prova que os chocolates, os bolos e o resto
são medíocres formas de entendimento mútuo.
Olha, Mila, entre os medos que me assaltam e eu cultivo,
o principal é que a minha mãe já não goste de mim.
Sabes, nunca li com vagar o Álvaro de Campos
porque aquilo era demasiado meu para ser dele.
Porque as multiplicações dele
são as minhas multiplicações.
Porque nunca pus o ouvido à escuta
que não sentisse tudo calado à minha volta.
Porque não é fácil escrever poemas
quando os poemas são difíceis de roer.
E é mais fácil esconder a vergonha
do que a loucura.
Olha, Mila, se a poesia não está nos versos
também não está aqui.
O mais que a gente pode
é pedir que ela venha
e, quando chega,
pôr mais um prato e um talher na mesa.
Entretanto todos os sonhos são bons,
porque são inúteis.
Entretanto, o palhaço de corda recorda
o infeliz voo do Álvaro e dos outros.
Amanhã, que é domingo,
diremos: passou mais uma semana.
A máxima felicidade nossa
será ficar todo o dia na cama
sabendo que o sol, lá fora, é violento
e nos odeia.
Olha, Mila, todas as coisas continuam certas
quando a certeza nos abandonou.
Há quem tenha a voz muito alta
e tanto que basta-lhes falar
para que todas as distâncias os ouçam.
Nós, não.
Nós não sabemos escrever à máquina,
não escrevemos nem lemos as cartas
dos outros, que cruzam o Mundo.
Por isso é que os patrões nos pagam por esmola,
a angústia não é fingida, e amamos todos por obrigação.
Por isso é que a gente nunca sabe
quando fala verdade,
porque, para ser nossa, a verdade é mentira.
Olha, Mila, eu não me importo nada
que digam que o Pessoa
esteve comigo, hoje, nesta pastelaria;
que tenhamos nascido os dois no mesmo sítio,
um sítio onde se nasce por imoralidade.
E que tudo o que ele não viu
- praias, pontes, cidades e navios -
tenha querido agora
inundar o poema.
Não julgues, Mila,
que senti alegria
em calar-me!
Raul de Carvalho
Talvez o Pessoa tenha escrito aqui
a Tabacaria.
Talvez vão dizer que está tudo dito
e o mais que eu mostro é habilidade.
Talvez que um dia, como tu dizes,
as escolas me recebam de novo
e eu aprenda verdadeiramente
como se diz amor em inglês.
Olha, Mila, para falar a verdade
eu estou muito esquecido dessas coisas
e todos os livros que li sobre a memória
não me deram memória nenhuma.
Para imitar o Pessoa, digo:
Precisamente neste momento
entrou aqui um jovem e pediu: - Licor!
Isso prova
que o amor é diferente para toda a gente.
Isso prova que o sangue do jovem não chega
para que ele se sinta cheio e à vontade.
Isso prova que os chocolates, os bolos e o resto
são medíocres formas de entendimento mútuo.
Olha, Mila, entre os medos que me assaltam e eu cultivo,
o principal é que a minha mãe já não goste de mim.
Sabes, nunca li com vagar o Álvaro de Campos
porque aquilo era demasiado meu para ser dele.
Porque as multiplicações dele
são as minhas multiplicações.
Porque nunca pus o ouvido à escuta
que não sentisse tudo calado à minha volta.
Porque não é fácil escrever poemas
quando os poemas são difíceis de roer.
E é mais fácil esconder a vergonha
do que a loucura.
Olha, Mila, se a poesia não está nos versos
também não está aqui.
O mais que a gente pode
é pedir que ela venha
e, quando chega,
pôr mais um prato e um talher na mesa.
Entretanto todos os sonhos são bons,
porque são inúteis.
Entretanto, o palhaço de corda recorda
o infeliz voo do Álvaro e dos outros.
Amanhã, que é domingo,
diremos: passou mais uma semana.
A máxima felicidade nossa
será ficar todo o dia na cama
sabendo que o sol, lá fora, é violento
e nos odeia.
Olha, Mila, todas as coisas continuam certas
quando a certeza nos abandonou.
Há quem tenha a voz muito alta
e tanto que basta-lhes falar
para que todas as distâncias os ouçam.
Nós, não.
Nós não sabemos escrever à máquina,
não escrevemos nem lemos as cartas
dos outros, que cruzam o Mundo.
Por isso é que os patrões nos pagam por esmola,
a angústia não é fingida, e amamos todos por obrigação.
Por isso é que a gente nunca sabe
quando fala verdade,
porque, para ser nossa, a verdade é mentira.
Olha, Mila, eu não me importo nada
que digam que o Pessoa
esteve comigo, hoje, nesta pastelaria;
que tenhamos nascido os dois no mesmo sítio,
um sítio onde se nasce por imoralidade.
E que tudo o que ele não viu
- praias, pontes, cidades e navios -
tenha querido agora
inundar o poema.
Não julgues, Mila,
que senti alegria
em calar-me!
Raul de Carvalho
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
POSTAIS SEM SELO
Os conservadores não são forçosamente estúpidos, mas a
mioria das pessoas estúpidas é conservadora.
ARTISTAS UNIDOS
Os Artistas Unidos, uma criação de Jorge Silva Melo, a 18 de Setembro de 1975, estrearam
António Um Rapaz de Lisboa no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian.
Fez agora 20
anos.
Ana Sousa Dias,
que foi entrevistar Jorge Silva Melo para o Diário de Notícias, dele
disse:
É um solitário que
adora estar acompanhado por muita gente.
Tem entre mãos a
tarefa demorada de fazer um filme sobre ele próprio, coisa maçadora porque já
sabe tudo, não tem surpresas.
Os Artistas
Unidos estrearam, agora, no Teatro da Politécnica, Jogadores de Pau Miró:
PROFESSOR É fácil prever o futuro. Basta olhar
para o céu. Ou para o espelho. Se te vires ao espelho, podes saber o futuro.
OLHAR AS CAPAS
Coisas
Adelino Tavares
da Silva – António Manaças – Baptista-Bastos – Carlos Porto – José Martins –
Nelson de Matos – Paulo da Costa Domingos – Pedro Oom – Virgílio Martinho –
Vitor Silva Tavares
Capa: João
Vieira
&etc,
Lisboa, Março de 1974
Num pequeno país atrasado e pobre o Primeiro-Ministro
preocupava-se muito com a ignorância do seu povo.
A percentagem de iletrados era tal que não se
descortinava maneira de arrancar do estado de subdesenvolvimento para a fase
industrial a que o país necessitava chegar.
O Primeiro-Ministro reuniu os melhores pedagogos do
país que elaboraram um pequeno livro de bolso, a que chamaram a “Cartilha
Paternal”, onde se resumia em frases simples toda a Ciência existente.
A “Cartilha Paternal” foi distribuída gratuitamente a
todo o Povo, o qual lhe deu a serventia que estava habituado a dar a tudo o que
fosse papel, liso ou impresso.
Moral: a instrução não custa um tostão…
(Pedro Oom)
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
POSTAIS SEM SELO
A convicção com que eu às vezes engano os doentes! Mas
se médico é também isso: ter capacidade de mentir persuasivamente quando a
verdade é o oposto da esperança.
Miguel Torga, Diário,
19 de Fevereiro de 1988, Vol. XV
Legenda: retrato
de Miguel Torga por Guilherme Filipe.
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Miguel Torga,
Postais Sem Selo
OS IDOS DE SETEMBRO DE 1975
24 de Setembro
de 1975
HÁ DOIS DIAS, a
Associação de Deficientes das Forças Amadas ocupou a portagem da Ponte 25 de
Abril, dando origem à passagem. sem pagamentos de portagens, a todas as
viaturas.
Nem o Presidente
da Republica, nem o governo quiseram ter qualquer conversação com a Associação.
Um elemento da
Direcção disse aos jornalistas: Se há 12 milhões de contos para os
retornados de Angola, porque é que não há-de haver dois milhões de contos para
os deficientes.
A revista Vida
Mundial pergunta: Deficientes das F.A. Quem se lembra deles?:
NO DIÁRIO DE LISBOA, deste dia, pode ler-se:
ASCENDE a 50 mil
o número de refugiados de Timor na metade indonésia da ilha. Dada a pobreza que
ali impera a presença desta multidão de deslocados não deverá tardar a criar
situações trágicas, escreve a France-Press em telegrama de Jacarta.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
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Guerra Colonial,
Timor,
Verão Quente 1975
POEMA
POESIA NÃO É UMA MEDALHA PARA POR NO PEITO DOS TIRANOS MAS UMA IMENSA SOLIDÃO FEITA DE PEDRAS, ONDE O DESPOTISMO PODE ENCOMENDAR O ATAÚDE.CADA UM DE NÓS ODEIA O QUE AMA. POR ISSO O POETA NÃO AMA A POESIA QUE É SÓ DESESPERO E SOLIDÃO MAS ACALENTA AO PEITO AS FORMIGAS DA REVOLTA E DA REBELDIA, QUE TODOS OS DÉSPOTAS QUEREM SUBMISSAS E PROCRIADORAS. SÓ OS VOLUNTÁRIOS DA MISÉRIA E DA SUBMISSÃO PATRIARCAL QUEREM A POESIA NA ARCA DA ALIANÇA COM A TRADIÇÃO PACÓVIA E REGIONALISTA DOS PRETÉRITOS DIAS, GLÓRIAS PATRIOTEIRAS, HEROICIDADES FRUSTRES, PIRATARIA IGNARA. TODO O VERDADEIRO POETA DESPREZA O PEQUENO MONTE DE ESTERCO ONDE O DEJECTARAM NO PLANETA E A QUE OS OUTROS CHAMAM PÁTRIA, E SÓ AMA OS GRANDES CONTINENTES MARES E OCEANOS DA LIBERDADE E DO AMOR. SÓ NOS VASTOS ESPAÇOS INCRIADOS A POESIA SERVE O SEU DESTINO — CATAPULTAR O HOMEM NOS ABISMOS DO DESEJO INCONTROLADO ONDE O PRÓPRIO ASSASSINATO É UM ACTO DE POESIA E DE AMOR. ESTE ASSASSINATO DE QUE FALO É O GRANDE AMPLEXO DE HOMEM PARA HOMEM A SOLIDARIEDADE E A TERNURA, NÃO A CARIDADE HIPÓCRITA OU A CAMA DE FAMÍLIA, COM TODO O SEU PEQUENO CORTEJO DE HORRORES, ONDE A EXPLORAÇÃO DO FILHO PELO PAI DITA A SUA LEI.
Pedro Oom em Grifo, Abril, 1970
V.S.T. & ETC
O nº 25 da &etc, folheca cultural q.b. de Outubro de 1974.
Dedicado à an-arkia é o seu último número.
Este exemplar foi-me oferecido, pelo Vitor Silva Tavares, na manhã em que levei ao Subterrâneo a minha colecção encadernada da &etc.
O tempo em que ele, olho de lince, viu logo que na colecção faltavam os números 24 e 25.
Foi um fartote de rir.
Fica-me a faltar o número 24 e, um dia quando o encontrar - difícil, difícil, dizia o Vitor - irei encadernar tudo de novo e, então, ficará completa.
DITOS & REDITOS
Perdido por cem, perdido por mil.
Quando um elefante tem problemas até uma rã lhe dá
pontapés.
O que se faz por paixão faz-se sem sacrifício.
Não é tarde nem é cedo.
Valha-nos a Senhora da Agrela que não há santa como
ela.
Esperar o inesperado.
Quando o pobre come galinha um dos dois está doente.
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
POSTAIS SEM SELO
Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino,
mudar de vida como mudamos de roupa - não para salvar a vida, como comemos e
dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente
chamamos asseio.
Fernando Pessoa
em O Livro do Desassossego.
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Fernando Pessoa,
Postais Sem Selo
CANÇÕES DE ENTARDECERES
Primeiro entardecer do Outono.
Uma cor laranja,
derramando uma luz amigável, muito serena.
A visibilidade
dos afectos.
Albert Camus que
nos diz que o Outono é outra Primavera, cada folha uma flor.
Chega-se a este
ponto e voltamos a reaprender o Outono.
Os pássaros
voltarão em Março.
A canção
escolhida para este entardecer é La Vie En Rose.
As
interpretações de Diana Krall e Louis Armstrong.V.S.T. & ETC
Faltam os
números 24 e 25.
Morte gloriosa ao 25º número publicado. Certidão de
óbito: nº a nº acumulados pela distribuidora os exemplares devolvidos, acontece
que esta apresentou no papelinho das contas uma soma de exemplares “devolvidos”
de um dos números finais superior à da própria tiragem. Record mundial
absoluto: vendas abaixo de zero! Guiness já já para a &etc! E que é deles,
os exemplares “devolvidos”? – Por “distracção lamentável, comunicado da
distribuidora, foram-se para a guilhotina na companhia de toneladas de tralha
impressa tida por jornais e revistas. Resultado do holocausto: só foi possível
salvar 50 colecções completas, logo encadernadas e entregues a outros tantos
colaboradores mais próximos. Tudo está bem quando acaba bem.
QUOTIDIANOS
Começo do
Outono.
Ainda ontem as
vi no meio do arvoredo, mas as andorinhas não tardam em partir para outras
paragens.
Abre-se o guarda-roupa e
já apetece uma lãzinha.
LXXXIX
Quando eu morrer quero as tuas mãos em meus olhos;
quero a luz e o trigo de tuas mãos amadas
passar uma vez mais sobre mim a sua frescura:
sentir a suavidade que mudou o meu destino.
Quero que vivas enquanto eu, adormecido, te espero,
quero que teus ouvidos continuem a ouvir o vento,
que sintas o perfume do mar que ambos amamos
e continues a pisar a areia que pisamos.
Quero que tudo o que amo continue vivo
e a ti ame-tei e cantei-te sobre todas as coisas
por isso, ó florida, continua a florir,
para que alcances tudo o que meu amor te ordena,
para que a minha sombra passeies pelos teus cabelos
para que assim conheçam a razão do meu canto.
passar uma vez mais sobre mim a sua frescura:
sentir a suavidade que mudou o meu destino.
Quero que vivas enquanto eu, adormecido, te espero,
quero que teus ouvidos continuem a ouvir o vento,
que sintas o perfume do mar que ambos amamos
e continues a pisar a areia que pisamos.
Quero que tudo o que amo continue vivo
e a ti ame-tei e cantei-te sobre todas as coisas
por isso, ó florida, continua a florir,
para que alcances tudo o que meu amor te ordena,
para que a minha sombra passeies pelos teus cabelos
para que assim conheçam a razão do meu canto.
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Albano Martins,
Efemérides,
Pablo Neruda Poemas
terça-feira, 22 de setembro de 2015
POSTAIS SEM SELO
Vitor Silva Tavares morreu hoje vítima de uma infeção
generalizada.
Estava há cerca de uma semana e meia internado no
Hospital de Santa Maria devido a uma infeção que se generalizou e que os
médicos não conseguiram controlar.
Dos jornais
… fumo maço e meio de SG Filtro por dia.
Vitor Silva Tavares em entrevista ao Público.
... e sei não houvera de saber que há um caixão desconhecido que espera por mim...
Vitor Silva Tavares em Para Já Para Já
... e sei não houvera de saber que há um caixão desconhecido que espera por mim...
Vitor Silva Tavares em Para Já Para Já
Atirou fumaças para o tecto. Era bom alimentar alguns
vícios. Quando fora bom viver na vida sem tentações? Ceder a algumas era até um
sinal de valentia; só o covarde é que não se deixava tentar, ou estarei
enganado?
Alexandre Pinheiro
Torres em O Adeus às Virgens.
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