segunda-feira, 14 de setembro de 2015

OLHAR AS CAPAS


Obras Em Prosa

Fernando Pessoa
Organização de João Gaspar Simões
Ilustrações de Jorge Colombo
Círculo de Leitores, Lisboa. Janeiro de 1974

As quatro paredes do meu quarto pobre são-me, ao mesmo tempo, cela e distância, cama e caixão. As minhas horas mais felizes são aquelas em que não penso nada, não quero nada, não sonho sequer, perdido num torpor de vegetal errado. De mero musgo que crescesse na superfície da vida. Gozo sem amargor a consciência a absurda de não ser nada o ante sabor da morte e do apagamento.
Nunca tive ninguém a quem chamasse “Mestre”. Não morreu por mim nenhum Cristo. Nenhum Buda me indicou um caminho. No alto dos meus sonhos nenhum Apolo ou Atena me apareceram, para que me iluminassem a alma.

(Do Livro do Desassossego)

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