quarta-feira, 23 de setembro de 2015

LXXXIX


Quando eu morrer quero as tuas mãos em meus olhos;
quero a luz e o trigo de tuas mãos amadas
passar uma vez mais sobre mim a sua frescura:
sentir a suavidade que mudou o meu destino.

Quero que vivas enquanto eu, adormecido, te espero,
quero que teus ouvidos continuem a ouvir o vento,
que sintas o perfume do mar que ambos amamos
e continues a pisar a areia que pisamos.

Quero que tudo o que amo continue vivo
e a ti ame-tei e cantei-te sobre todas as coisas
por isso, ó florida, continua a florir,

para que alcances tudo o que meu amor te ordena,
para que a minha sombra passeies pelos teus cabelos
para que assim conheçam a razão do meu canto.

Pablo Neruda em Cem Sonetos de Amor, tradução de Albano Martins, Campo das Letras, Porto, Maio de 2004

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