domingo, 6 de setembro de 2015

QUOTIDIANOS



Domingo à tarde.

O horizonte está roxo e dourado.
Quietude. Os homens estão á conversa no largo.

O largo de Almoçageme, com coreto ao meio, com um café, igreja, casa mortuária, creche, mercado de peixe, de frutas e legumes, quiosque de jornais, cemitério, o largo como o centro do mundo no velho dizer do Manuel da Fonseca.

O diálogo flui na mercearia do Dias, agarrado ao Café Adraga de João & João.

O rapaz pede uma cerveja estupidamente gelada.

Ao lado, Miguel Esteves Cardoso, há muito a viver por ali, pede desculpa e, de olhos a piscar, murmura:

Não só estúpida como inteligentemente gelada.

Ninguém pergunta de razões.

Lá fora a tarde cai caindo roxa e dourada.

O Manel cantoneiro encosta-se ao cantinho do muro de cemitério, geme um pouco e deixa lamento:

Mijar pouco na presta.


O quarto minguante desenha-se no céu.

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