M.F.A. e Revolução Socialista
César
Oliveira
Capa: Dorindo
Carvalho
Colecção
Teoria e Prática nº 2
Diabril
Editora, Lisboa, Abril de 1975
Ter-se-á clarificado nestas páginas o
caminho para o avanço do socialismo em
Portugal.
M.F.A. e Revolução Socialista
César
Oliveira
Capa: Dorindo
Carvalho
Colecção
Teoria e Prática nº 2
Diabril
Editora, Lisboa, Abril de 1975
Ter-se-á clarificado nestas páginas o
caminho para o avanço do socialismo em
Portugal.
Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard
da Costa
Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
22 de Abril
de 1974
Os jornais
trazem nas suas primeiras páginas, fotografias do almoço íntimo que o chefe de
estado Almirante Américo Tomás ofereceu, ontem, no Palácio Nacional de Belém do
Chefe do Governo.
Sem
protocolo, revestido de cunho de cordialidade, num ambiente extraordinariamente
amistoso, escreveram os jornalistas. Não adiantaram os motivos do festim
mas, sabe-se por portas travessas que Tomás, com esta reunião, tentou conciliar
os ministros que, ouvia-se pelos corredores, andavam às turras, uns com saudades
de Salazar, outros por Marcelo andava tropeçar nos próprios passos.
Olha-se a
fotografia, publicada pelo ultra-fascista jornal Época, e vemo-los
descontraídos e sorridentes.
Desconheciam
ainda que almoçavam, todos juntos, pela última vez, tal como desconheciam que
poucos dias faltavam para deixarem de sorrir.
O pânico
haveria de tomar conta das suas excelsas e distintas pessoas.
O JORNAL
REPÚBLICA conseguiu, numa pequena notícia, dar conta que
quatrocentos democratas marcaram presença na homenagem a Óscar Lopes.
No mesmo
jornal, o jornalista e escritor Álvaro Guerra, encarregado pelos capitães da
ligação com a imprensa, no seu habitual Ponto Crítico, abordava
a meteorologia e, se pudéssemos ter decifrado as entrelinhas, teríamos ficado a
saber que o tempo ia mesmo mudar.
«A Primavera continua chuvosa, um resto
de invernia que se arrasta, retardando o sol aquém, de tantos sóis adiados, se
vai fartando e chegando ao Inverno da vida com um levíssimo e já frio raio de
luz teimando penetrar na floresta desencantada da memória.
Naturalistas, alegóricos, nostálgicos, vamos seguindo os caprichos do clima,
mitigando a ausência das palavras primaveris com a decifração de eternos
boletins meteorológicos.»
OTELO SARAIVA
DE CARVALHO comunica aos seus camaradas que tem pronto o Plano Geral
das Operações.
DINIZ DE
ALMEIDA, em Origens e Evolução do Movimento de Capitães, conta, que neste
dia, «Grândola» de José Afonso foi escolhida como canção-segunda-senha para saída,
em todo o país, dos regimentos afectos ao Movimento dos Capitães.
A canção foi escolhida por Almada Contreiras que, mais tarde, justificará a escolha: «em primeiro lugar, porque sou alentejano, depois porque gosto muito da canção. Se fosse minhoto, provavelmente a senha seria um “vira”, não sei».
Sei que estou vivo e cresço sobre a
terra.
não porque tenha mais poder,
nem mais saber, nem mais haver.
Como lábio que suplica outro lábio,
como pequena e branca chama
de silencio,
como sopro obscuro do primeiro crepúsculo,
sei que estou vivo,
vivo sobre o teu peito,
sobre os teus flancos,
e cresço para ti.
Eugénio de Andrade de Cumplicidades do Verão em Poemas
Este não é o
dia seguinte do dia que foi ontem.
João
Bénard da Costa
Será um
desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções,
fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer
especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
21 de Abril de 1974
Há 50 anos, o
dia 21 de Abril calhou a um domingo, um dia simpático para que Américo Tomás,
juntasse, no Palácio de Belém, sem saber
que o faria pela última vez, num almoço íntimo, algumas das principais figuras
da vida nacional, e outras personalidades.
Para além da veneranda figura, sentaram-se à mesa, Marcelo Caetano, os presidentes da Assembleia Nacional, da Câmara Corporativa e do Supremo Tribunal de Justiça, os ministros da Defesa Nacional, da Justiça, das Finamças, o procurador geral da República, os conselheiros de estado dr. Albino Reis, prof. Costa Leite (Lumbrales), dr. Luís Supico Pinto, o governador civil de Lisboa, o deputado contra- almirante Henrique Tenreiro.
Não se sabem
razões para a realização do festim, tão pouco foi pública a ementa.
Quatro dias depois deste festim, aconteceria a tal madrugada que Sophia registou para a História.
DINIZ DE
ALMEIDA no seu livro Origens
e Evolução do Movimento dos Capitães, regista que a
redacção do programa do Movimento havia-se entretanto processado a partir de um
documento inicialmente discutido entre Almada Contreiras, Martins Guerreiro e
Melo Antunes.
Nessa redacção intervieram:
Pela Armada: Crespo, Contreiras, Lauret,
Simões Teles, Vidal Pinho.
Pelo Exército: Melo Antunes, Costa Brás,
Charais, Vítor Alves, José Maria Azevedo.
Pela Força Aérea, praticamente fora do
assunto, só se fará sentir a sua opinião já no final dos trabalhos, em 24 de
Abril de 1974.
A versão definitiva do programa, passada à máquina directamente pelo próprio Hugo dos Santos, ficou estabelecida em casa de Vítor Crespo, no dia 21 de Abril de 1974, domingo (epílogo das muitas reuniões efectuadas sobre o programa).
NA PRAIA DA AGUDA, em Gaia, e por iniciativa do jornal Opinião, realizou-se um jantar de homenagem a Óscar Lopes.. A censura interveio com uma série de cortes pelo que as notícias publicadas, pouco ou nada referem. Os serviços da censura avisavam que as fotografias e as legendas da homenagem teriam que ser enviadas ao Dr. Ornelas.
EM ABRIL DE
1974, Portugal era um país onde coexistiam a maior miséria e a riqueza mais
faustosa. Com oito milhões de habitantes, em cada mil crianças nascidas 56
morriam antes de completarem um ano de idade e em cada mil habitantes 15
morriam de tuberculose pulmonar. Apenas 40 por cento da população tinha água em
casa e 75 por cento não dispunha de esgotos. Em cada 100 portugueses 37 eram
analfabetos e em cada 100 alunos que frequentavam o ensino primário 30 não o
completavam e apenas 2 por cento vinham a obter uma graduação universitária.
E havia uma
guerra em África.
Milhares e milhares
de mortos, feridos, estropiados.
A Pátria não se discute, defende-se!
PASSAGEM PELO LIVRO 40 Anos de Servidão de Jorge de Sena:
«Uma vez eu, chegando a Portugal
após muitos anos de ausência minha e alguns
de guerras africanas, encontrei uma
vizinha
muito estimável que era casada com
um operário categorizado e antigo republicano.
O filho dela estava nas Africas,
arriscando
a vida dele e a dos outros em defesa
do património da pátria de alguns (muito
mais
que das gerações brancas que vivem nas
Áfricas).
Eu condoí-me, todo embebido de noções
políticas.
E ela, com um sorriso resignado,
respondeu-me:
- Pois é, mas ele está a ganhar tão
bem!»
EM SANTA
MARIA DE BELÉM realizou-se a tradicional bênção dos bacalhoeiros, repetida
todos os os anos por ocasião da partida da frota para os mares da Terra Nova e
da Gronelândia.
A Defesa Acusa
Álvaro
Cunhal, Francisco Migue, António Lourenço
Capa: Luís
Filipe da Conceição
Colecção
Resistência nº 3
Edições
Avante, Lisboa, Abril de 1975
Podem todos estar certos de que o dia
virá em que a consideração de todos estes crimes terá lugar num outro
julgamento em que serão outros os réus.
Este não
é o dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um
desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias,
figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação
do dia, mês, ano em que aconteceram.
20 de Abril de 1974
DENTRO DE UM LIVRO, um guardanapo de papel com
versos de um poema do José Gomes Ferreita:
«Esperança: o teu nome verdadeiro é teimosia de querer ouvir as pedras a cantar.»
Nas paredes da cidade começam
a aparecer inscrições: O 1º DE MAIO É VERMELHO!
NA NOTA DA DGS, que acima se reproduz o recorte, publicada nos jornais.
Pode ler-se:
«A Direcção-Geral de Segurança fez divulgar, através da Secretaria de Estado de
Informação e Turismo”, a seguinte nota:
“Desde o início do corrente mês, mas com maior intensidade nos últimos dias,
tem-se verificado por parte de várias organizações comunistas, uma grande
actividade na difusão de panfletos e outras actuações de propaganda através das
quais se incita a acções revolucionárias no 1º de Maio.
Com base nas averiguações feitas, foram detidos em Lisboa 15 indivíduos e 15 no
Porto, especialmente aos sectores de “informação e divulgação” daquelas
organizações, alguns dos quais estão de há muito referenciados como seus
orientadores activos.
As averiguações conduziram a apurar que era nas oficinas do semanário «Notícias da Amadora que se imprimia muito do material subversivo, tendo nelas sido apreendidos largos milhares de exemplares de panfletos revolucionários.»
NA 1ª PÁGINA do Diário de Notícias, com a respectiva fotografia, lia-se que o «venerável chefe de estado Almirante Américo Thomaz» visitara uma feira de antiguidades na FIL.
NUMA BREVE NOTÍCIA O Século informava que três jovens, dois canadianos e um argentino, foram detidos sob a acusação de prática de imoralidade. Foram presos por, segundo o agente da PSP, estarem descalços e de tronco nu deitados na relva. No relatório enviado ao Comando da corporação, o agente informa que aqueles cidadãos estrangeiros estavam a ofender a moral pública.
NA SECÇÃO de Breves notícias, o Expresso informava que o governo tinha autorizado Miguel Quina a localizar um estaleiro de reparação na Cova do Vapor e Champalimaud pediu autorização para abrir um banco de investimento em Angola e instalar uma frota de navegação de longo curso para o comércio entre Moçambique e Angola,
NESTE DIA conta Otelo Saraiva de Carvalho no seu
livro Alvorada em Abril, que Vítor Alves lhe perguntou qual era a
percentagem de probabilidades de êxito que ele atribuía ao movimento.
Otelo respondeu:
«Não entrando em linha de conta com os imponderáveis, garanto uma
probabilidade de êxito de oitenta por cento para uma vitória concretizada em
doze horas a partir da Hora H.
Vítor Alves olhou-o “estupefacto” e comentou:
Booolas! Se me tivesses respondido com vinte por cento de probabilidades de
êxito, eu tinha achado sensacional! Invertendo os valores e garantindo oitenta,
não estarás, como de costume, a ser demasiado optimista?»
O «Socialismo» Que Eu Vivi
Cândida
Ventura
Prefácio:
Artur London
Capa: João
Segurado
Editora O
Jornal, Lisboa, Setembro de 1984
Este livro não é um livro de memórias
nem pretende ser um estudo crítico do estalinismo nos países do Leste e no
Partido Comunista Português. Também não tem a veleidade de constituir um estudo
sobre a acção do movimento comunista internacional. É apenas um testemunho
sobre uma parte da minha vida, aquela onde pus o que julgo ser o melhor de mim
própria.
«O ano de 2023 foi memorável. O sector bancário lucrou quase 12 milhões de euros por dia. Os cinco maiores bancos apresentaram 4,3 mil milhões de euros de resultados líquidos. O BCP, por exemplo, quadruplicou os resultados. Na EDP os lucros cresceram uns estrondosos 40%. Nos CTT cresceram 66%. A Galp teve o melhor resultado de toda a sua existência – fez-se história. Na Sonae os lucros subiram para 354 milhões; na Jerónimo Martins, os resultados cresceram 28%. Estas empresas, está bem de ver, precisam de ser acarinhadas.»
Ana Drago
Que era o escrever até 1974?
«Iludir a censura, acautelar o tema,
aperfeiçoar a entrelinha» disse José Saramago.
Sim, este
país teve, uma censura de coronéis-analfabetos a policiarem o pensamento do
povo.
Este é um
corte total de uma prosa de José Saramago que se destinava a ser publicada no Notícias
da Amadora de 9 de Fevereiro de 1974.
Este não é o
dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um
desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções,
fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer
especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
19 de Abril de 1974
O que acima
se reproduz, é a legenda de uma fotografia publicada na 1ª página de O Século,
que dava conta que o ministro do interior César Moreira Baptista deslocou-se ao
Porto para a tomada de posse do Governador Civil.
«Para a sua primeira deslocação ao Porto como ministro do Interior, o dr.
César Moreira Baptista escolheu mais democrático dos meios de transporte ao seu
alcance: o comboio. Como um vulgar passageiro embarcou, no rápido das 8 e 40 em
Santa Apolónia e, ora entretido na leitura, ora contemplando a paisagem através
das amplas “vidraças” da carruagem, “venceu, a distância, chegando ao Porto à
hora do almoço, para, durante a tarde e a noite cumprir o programa oficial que
ali o aguardava.»
Apenas três
pormenores: o repórter invoca o comboio como o mais democrático meio de
transporte, o ministro como «vulgar passageiro» e durante a viagem, entretido
com a paisagem ou com a leitura.
Mas não diz o que o ministro lia, ele que era um perfeito analfabeto.
A CENSURA determinava para os jornais que eram proibidas todas as notícias a dizer “Traineiras não foram para o mar.”
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Américo Tomás visita a Barragem da Aguieira
O MINISTRO DO ULTRAMAR, Baltasar Rebelo de Sousa, ao despedir-se de um grupo de alunas do Instituto de Odivelas, que se preparava para visitar Angola, garantiu-lhe que naquelas terras se sentiriam “ainda mais portuguesas perante a lição de patriotismo que as populações de todas as etnias lhes vão proporcionar, pela comunhão humana que ali se respira e pelo entusiasmo galvanizante de todos, especialmente da sua generosa e promissora juventude”
NUMA REPORTAGEM no Mercado de Alcântara o jornalista do Diário de Lisboa registava as queixas de uma florista de que cada vez se vendiam menos flores. “Só nos sábados é que as pessoas compram um raminho para alindar as casas. As rosas vermelhas estavam a 25 escudos e os cravos, de qualquer cor, a 20 escudos.
NESTE DIA, conta Dinis de Almeida no seu livro «Origens e Evolução do
Movimento dos Capitães»:
«Acompanhado do capitão Almeida Pereira, dirigi-me ao C.I.C.A, 4 onde
contactei o major Borges.
Posto ao corrente da situação, não aderiu, embora se comprometesse inclusive a
colaborar passivamente em tudo o que não o comprometesse directamente.»
Notas de Exílio do “Chico da C.U.F.”
Francisco
Ferreira
Prefácio:
José Augusto Seabra
Capa:
Henrique Manuel
Edições
Afrodite, Lisboa, Janeiro de 1976
Comecei a vida de trabalho muito cedo,
como a maioria esmagadora maioria dos Portugueses. Fui operário da Companhia
União Fabril (CUF), no Barreiro, onde trabalhei dez anos (1924/34).
Operários da secção de «Caldeiraria»
iniciaram-me na compreensão dos deveres de solidariedade, da luta contra a
injustiça e pela conquista de um futuro português de progresso e liberdade.
Foram os meus mestres.
A minha primeira tarefa de militante foi
organizar um grupo de Socorro Vermelho Internacional (SVI), de solidariedade
aos presos antifascistas. Tornou-se um dos grupos mais activos do Barreiro.
Chegou a ter 60 contribuintes.
Estávamos no ano de 1929.
Vivíamos sob o salazarismo que nos
recusava os direitos mais elementares. O número de analfabetos entre o pessoal
da CUF rondava os 70%.
Os partidos políticos republicanos tradicionais, dos diversos matizes, não manifestaram interesse no recrutamento de jovens para as suas fileiras. Tinham-se desinteressado da juventude.
Domina-me um terror incoerente
Do Nada, da final insensação
Por isso creio em Deus com Fé demente,
Por medo, por defesa, com paixão.
Se busco todavia uma razão
Que fortaleça a Fé de que sou crente,
Tortura-me o saber que tudo é vão,
Que tudo se aniquila finalmente,
Que tudo se transmuta e se transforma
E que perdura apenas noutra forma
Aquilo que no mundo é material.
Concebo que tudo isto tenha um fim.
Só não concebo o que será de mim,
Cumprido o meu degredo terreal.
Reinaldo Ferreira em Poemas
Este não é o
dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
18 de Abril de 1974
O dia 18 de Abril, segundo António Mega Ferreira num futuro número do
Expresso (25-04-1981), amanheceu cinzento. Um céu pesado, envolvia
Lisboa numa promessa de chuva. Ao fim da tarde, porém, o estado do tempo
agravou-se: uma violenta trovoada desabou sobre a cidade e choveu
torrencialmente.
Nessa tarde do dia 18, Marcelo Caetano
não escondia o seu desalento: «Não sei se algum Governo terá tido tantas
dificuldades para governar como o meu,
O governo de
Marcelo não vive momentos de unidade, as
forças conservadoras minam tudo. O próprio presidente da república era mais um escolho e um foco de oposição;
Uma frase de
Marcelo retida por António Mega Ferreira:
«Os meus
ministros vêm aqui crucificar-me! Sou tido por responsável de tudo o que se faz
e do que não se faz neste país.»
UMA PORTARIA
do Ministério das Comunicações determina que as provas teóricas de condução de
automóveis deixem de ser feitas oralmente e passam a ser prestadas de testes
escritos.
MARCELO CAETANO convida o reitor da Universidade Clássica de Lisboa, Veríssimo Serrão, para substituir com urgência, Veiga Simão na pasta da Educação.
Radiografia Militar
Manuel Barão
da Cunha
Capa: Moreira
Rijo
Editorial O
Século, Lisboa, Abril de 1975
Bolama, 17-9-1964
Caro Camarada
Tem esta o fim de vos desejar completo
êxito no cumprimento da missão. Cumprir a missão é quase sempre mais do que
cumprir o dever.
Antes de abraçá-lo transcrevo, por
julgar adequado ao momento que estamos a viver, as seguintes palavras de P..
António Vieira:
«Se serviste a Pátria e ela vos pagou
com gratidão, vós que fizeste o que decias, e ele o que costuma.»
Aceite uma abraço amigo do camarada»
Assina: major Vitor Carloto
Ponho palavras em cima da mesa; e deixo
que se sirvam delas, que as partam em fatias, sílaba a
sílaba, para as levarem à boca - onde as palavras se
voltam a colar, para caírem sobre a mesa.
Assim, conversamos uns com os outros. Trocamos
palavras; e roubamos outras palavras, quando não
as temos; e damos palavras, quando sabemos que estão
a mais. Em todas as conversas sobram as palavras.
Mas há as palavras que ficam sobre a mesa, quando
nos vamos embora. Ficam frias, com a noite; se uma janela
se abre, o vento sopra-as para o chão. No dia seguinte,
a mulher a dias há-de varrê-las para o lixo.
Por isso, quando me vou embora, verifico se ficaram
palavras sobre a mesa; e meto-as no bolso, sem ninguém
dar por isso. Depois, guardo-as na gaveta do poema. Algum
dia, estas palavras hão-de servir para alguma coisa.
Nuno Júdice
Este não é o
dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
17 de Abril de 1974
A POUCO E POUCO, caminhamos para os dias últimos de Marcelo Caetano & Cª.
JORNAIS continuam a publicar comunicados das Forças Armadas dando conta das mortes de militares em teatro de guerra, a maior parte motivadas por “acidentes de viação”.
OS SERVIÇOS DE CENSURA do Reino estão numa actividade febril.
NO TRIBUNAL PLENÁRIO de Lisboa continua o julgamento de “cidadãos acusados de
pertencerem à Acção Revolucionária Armada (ARA)” A censura “aconselhava” que as
notícias do julgamento deveriam ser reduzidas “à expressão mais simples”.
O editorial do “Diário de Notícias” deste dia tinha por título “A Orelha de
Mão” onde eram explicados os motivos por que a Rússia e a China travam em
África uma guerra surda pela conquista de zonas de influência.
MARCELO CAETANO agradece à Universidade de Luanda o título honoris causa.
A censura proibia qualquer referência à homenagem ao professor Óscar Lopes.
Proibida
também a notícia da confraternização de antigos alunos do Colégio Militar.
O Coronel
Roma Torres, censor-mor deste dia, lembrava aos senhores jornalistas que têm de
MANDAR SEMPRE CÁ, os assuntos que os senhores jornalistas, às vezes, se
esquecem de mandar…
Circular nº 45/74 dos Serviços de Censura:
“Para os devidos efeitos, elucido V. Exª de que todas as notícias de sessões
públicas de qualquer índole deve, sem excepção, ser submetidas a exame prévio.
A BEM DA NAÇÃO
Alberto Alexandre Pestana de Ornelas.”
AINDA UM VOLTAT ATRÁS...
«Declaro por minha honra que estou integrado na Ordem Social
estabelecida de Constituição Política de 1933 com activo repúdio do comunismo e
de todas as ideias subversivas.
Torres Vedras, 23 de Novembro de 1966»
Pasar de olhos pelos Dias Comuns, Vol I , de José Gomes
Ferreira:
«8 de Outubro de 1965
Momento sinistro de pensamento mutilado…
Como é possível viver numa pátria assim! – de livros proibidos, de jornais
proibidos, de peças proibidas, de homens proibidos – em que só o silêncio é
justo?»
Mediante a afirmação Montenegrina, no dia 2 de
Abril, o Presidente da República deu posse ao XXIV Governo Constitucional.
Desde então
temos assistido a uma série de situações que permitem concluir que o governo
tem realmente maioria para exercer a governação, mas falta-lhe humildade, bom senso, competência,
algo mais.
Tem-se revelado um governo amante de truques e magias com uma sucessão de casos que permitem ter a ideia que o governo está a fazer tudo para proporcionar a sua queda.
Isso mesmo conclui Pedro Tadeu, hoje, no Diário de Notícias.
Trinta Facadas de Raiva
Capitão
Calvinho
Prefácio: Diniz
de Almeida
Capa: Luiz
Suarez
Edição da
Associação dos Deficientes das Forças Armadas,
Lisboa, Abril
de 1976
Agressão
Cultural
Mataca é nome de régulo.
Régulo é nome tradicional de chefe
Chefe deriva neste poema:
de Gungunhana.
Guerra é nome de crime.
Crime é nome de agressão.
Agressão deriva deste poema:
do gesto dum capitão
que hoje é «gente grande»
- Põe teu filho nos ombros!
Ordenam lábios finos,
secos, quase cerrados.
- Não!
Responde um régulo ferido
no seu orgulho e razão.
- Pega no teu filho!
Insiste um rosto
feito de triângulos.
- Não!... não pega – replica um régulo
já sem convicção.
E explica:
Minino não é carga de régulo!
E o seco rosto
do seco oficial:
ensaia um tique de nervos
para lá das lentes escuras
que lhe escondem os olhos.
E o régulo curvou-se…
fixou os olhos num filho
(de olhos escancarados)
e perante a força do novo Mouzinho:
- «sentou-se no chão»!...
(Meses depois, apesar de «muito bem
tratado»,
fugia para junto daqueles que nunca traiu)
«33…35…Rumo ao Norte»!
Só isto! Nada mais!
E isto quer dizer
a saudade do cais
que se perdeu de vista;
o Mar que se conhece braça a braça
por outro mar sem fundo;
as praias onde andara em pequenino
pelas do Cabo do Mundo,
geladas e tristes;
a mulher possuída realmente
pela mesma mulher
que se quer
e se não tem,
e a voz dum filho nu – continuamente –
debruçado do cais
a pedir pão!
- «33… 35… Rumo ao Norte».
Só isto! Nada mais!
Julho de 1940
Álvaro Feijó
em Os Poemas de Álvaro Feijó
Começo de O Fogo e as Cinzas de Manuel da Fonseca:
«Antigamente o largo era o centro do mundo. Hoje é apenas um cruzamento de estradas, com casas em volta e uma rua que sobe para a Vila. O vento dá nas faias e a ramaria farfalha num suave gemido; o pó redemoínha e cai sobre o chão deserto. Ninguém. A vida mudou-se para o outro lado da Vila».
Terá sido o
primeiro livro que li de Manuel da Fonseca.
Todas as
leituras que, na adolescência, fiz dos livros da Biblioteca da Casa, foram, na sua
quase totalidade, pescaria à mão, à linha, feitas, sem qualquer indicação, sem
qualquer orientação. Claro que houve livros que abandonei por não entender
nada, por não encontrar um mínimo de chamamento. Deveria ter feito um registo dos
livros que abandonei. Tentei um dia fazer esse apanhado, mas perdi-me por
completo.
Claro que lendo Eça de Queiroz aos 14 anos, teria que a ele voltar. Sempre
Mas este
começo do livro não pode enganar ninguém, um começo que, quando o
releio, ainda, fortemente me comove.
«Ninguém. A vida mudou-se para o outro lado da Vila».
Este não é o
dia seguinte do dia que foi ontem.
João Bénard da Costa
Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.
16 de Abril de 1974
O MINISTÉRIO DO ULTRAMAR, em nota enviada para os jornais, dava a conhecer que,
contrariamente ao que diziam os inimigos da Pátria, os missionários combonianos
não foram expulsos de Moçambique mas convidados a sair “para salvaguarda da sua
segurança”. O mesmo no que diz respeito ao Bispo de Nampula.
Missionários e Bispo eram acusados de serem responsáveis por um “documento
altamente ofensivo da nação portuguesa e também da hierarquia da Igreja, pondo
em causa s relações entre Portugal e a Santa Sé.”
No topo do
texto desta Viagem de Abril encontra-se, através do Notícias de Portugal,
a versão do governo de Marcelo, que, como habitualamente, é uma completa
mentira.
UMA NOTA da PIDE/DGS informa que “Com base nas averiguações feitas foram
detidos 15 indivíduos em Lisboa e Porto”, implicados em “acções revolucionárias
no 1º de Maio. Mais se informava que uma brigada apreendeu “largos milhares de
exemplares de panfletos revolucionários” nas oficinas do semanário
oposicionista «Notícias da Amadora».
TÃO SURREALISTA, como hilariante, o despacho da Comissão de Censura enviada
para o «Jornal de Notícias e transcrita no livro de César Príncipe «Os
Segredos da Censura».
Aqui se dá
conta que o censor de serviço também lamentava os aumentos das tarifas de
correios e telefones mas, infelizmente, não se pode dizer…
«Sobre aumentos dos correios e telefones – não se pode falar em «público
reage». A propósito da reportagem o senhor coronel Saraiva não viu
inconveniente nenhum, pois ele até ficara “desgostoso, termo que satisfaz nestas
coisas de novos preços. O público reage é que não, pois dá a ideia de “barulho.
de contestação agressiva.”