É tão difícil guardar
um rio, sobretudo quando ele corre
dentro de nós.
Jorge
de Sousa Braga
Luís
Naves
1.
Não temos o
hábito, deveria ser uma obrigação, de conhecer a história do país, a antiga, a
de tempos recentes
É necessário ler
o que nos possa chegar às mãos.
Em tempos
ditadura, com a morte de Salazar, sucedeu Marcelo Caetana e alguém inventou a
frase «primavera marcelista»
Uma falácia,
como tantas outras.
A Loja Frenesi,
pelo preço de 50 euros, tem à venda «Conversas Com Marcelo Caetano» da autoria
de António Alçada Baptista.
Paulo da Costa
Domingos, o dono da Loja, explica:
«Este livro,
engendrado já no declínio, senão no estertor, do regime fascista, assume o
estilo de um ex-aluno «respeitador» e «admirado» em amena troca de impressões
gerais com o seu antigo professor. Mas tais generalidades passam um pouco ao
largo da governação de um país a ferro e fogo policial, que é o que acontece
quando o poder sente o chão a fugir-lhe de debaixo dos pés. Pode dizer-se que,
apesar da dissimulada ambição, Alçada Baptista – que fôra, dez anos antes, o
fundador da revista O Tempo e o Modo – nunca possuiu o fulgor
atrevido de um António Ferro em diálogo com Salazar, que é o que acontece
quando os consensos de uma época empurram a passos desordenados para o fim.
A título de
exemplo, uma passagem:
Sinto que, para Marcello Caetano, a política é muito mais uma “arte” do que uma “ciência”: uma estratégia de conter o real que resulta das concretas motivações dos homens num determinado tempo da história, no pressuposto inabalável de que eles, neste domínio, quase nunca se movem segundo as “rectas intenções”. Daí que, desgraçadamente, o fenómeno político reflicta, afinal, o denominador comum da nossa humana banalidade. Donde, a consequência duma dualidade inevitável: de um lado, um universo pessoal povoado de valores tradicionais que se reflectem num comportamento pessoal à base das “antigas virtudes”: trabalho, exigência interior, vida espiritual, honestidade pessoal, austeridade; do outro, um universo social cujas virtudes são as “virtudes” da guerra, perante um inimigo que, no seu entender, está disposto a tudo, e a quem não podemos oferecer a vantagem dos nossos princípios pessoais. E que seriam esses princípios, de que o homem completamente se desinteressou, que, a serem colectivamente vividos, poderiam modificar um dia as regras dum jogo que, ainda no seu entender, os outros quiseram assim. [...]» – Alçada Baptista, há que sublinhá-lo, está a referir-se ao segundo Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa, organização para-militar émula da “juventude hitleriana...»
2.
«O Ministério da Saúde promoveu uma conferência de
imprensa para falar da prevenção e tratamento, pedindo a quem não se vacinou
para se vacinar e para se usar máscara em espaços fechados. Senão, o aumento de
casos às urgências e respetivos internamentos levarão “à interrupção das
cirurgias menos urgentes”. Xavier Barreto e Carlos Cortes criticam Governo por
que isto é o que acontece todos os anos e “estamos exatamente na mesma
situação”».
3.
Hoje, em
Portugal, 1,9 milhões de pessoas, cerca de 18,6% da população , estão em «risco
de pobreza e exclusão social», de acordo com o INE.
4.
«Número de
pensionistas a trabalhar está a subir e já é de 10%
O número de pensionistas que decidiram adiar a reforma para além da idade
legal, ou continuar a trabalhar depois de se reformarem, aumentou, nos últimos
sete anos, de forma significativa em Portugal. Um fenómeno que mostra não só o
impacto das medidas de incentivo ao prolongamento da vida activa, como também a
forma como, num cenário de desemprego baixo, se assiste actualmente a um
reforço da procura por trabalhadores com idades mais avançadas.
Os dados fazem parte do retrato publicado esta sexta-feira pelo Banco de
Portugal sobre “os pensionistas de velhice em Portugal”, que revela, na análise
realizada desde 2018, para além da manutenção de tendências de passado como a
existência de uma forte desigualdade entre os homens e as mulheres no valor das
pensões recebidas, a concretização, igualmente, de mudança significativas em
diversas áreas.»
Ségio Aníbal no Público
5.
Nos primeiros dez meses do ano a PSP detectou em média 26 condutores por dia a conduzir com excesso de álcool no sangue.
Sammy
sempre se revelou um maluquinho de músicas e canções de Natal, ao ponto de ter
por aqui, no blogue, canções de que ele gosta e que diz que também são Canções
de Natal.
Esta dos Bee-Gees é uma dessas canções.
Colaboração de Aida Santos
O essencial não é a
escrita, é a visão.
Marguerite
Yourcenar
Legenda: pormenor do desenho de Antoine de Saint-Exupéry para a capa de O Principezinho.
Coloquemos
de lado os números indicados pelo Governo, pelas centrais sindicais.
Mas
se bem que não haja estatística, teremos que citar os trabalhadores dos
privados que ouviram os patrões, os empresários, dizer-lhes: «se aderires à
greve, terás problemas…»
Numa
reportagem publicada pelo Público, Luca, trabalhador precário, disse: «Não
tenho hipótese de fazer greve. Se pudesse fazia».
A
Greve Geral cancelou 66% dos voos previstos em Lisboa, 49% no Porto e 95,4% em
Faro.
Adesão
muito significativa nos hospitais, nos transportes, nas escolas.
A
Auto-Europa cumpriu a Greve Geral dos trabalhadores.
E
agora?
O
governo terá compreendido o buraco em que se enfiou, e nesse seguimento, a
ministra do trabalho convocou a UGT para uma reunião, na próxima terça-feira, tendo em vista continuar as negociações sobre o anteprojecto do governo de
reforma da legislação laboral.
Todo
este processo correu mal para o governo porque Luís Montenegro andou afastado da
discussão, deixando-a ao cuidado da ministra que é uma mera académica e não uma
figura política, piorou quando o 1º ministro, o ministro da presidência, outos
ministros, tiveram uma atitude arrogante, soberba aparvalhada, completamente desnecessária,
desvalorizando a luta e a razão dos trabalhadores.
Lídia Jorge é a sétima mulher a vencer o Prémio Pessoa.
«A sua escrita criativa
e diversificada tem sido capaz de revelar o poder da literatura para nos ajudar
a compreender os grandes desafios do mundo contemporâneo e a sua intervenção
cívica corajosa tem contribuído decisivamente para enriquecer o debate democrático
na sociedade portuguesa», destacou o Júri do Prémio Pessoa 2025.»
Para onde nos querem enviar… ainda mais?...
Mark
Rutte, secretário-geral da NATO, incondicional admirador de Donald Trump, acaba
de exortar os europeus a intensificarem os esforços de defesa para impedir uma
guerra com a Rússia.
Disse
o trumpista secretário, numa conferência de imprensa em Berlim:
«Somos
o próximo alvo da Rússia. Receio que muitos estejam silenciosamente
complacentes. Muitos não sentem a urgência. E muitos acreditam que o tempo está
do nosso lado. Não está. A hora de agir é agora».
Posso estar distraído, a idade não perdoa, mas não vi, nem ouvi, o ministro da defesa Melo, nem o ministro dos negócios estrangeiros Rangel, falar de estar à porta um conflito com a Rússia.
E
estaremos preparados?
Quando, Senhora, quis
Amor que amasse
essa grã perfeição e gentileza,
logo deu por sentença que a crueza
em vosso peito amor acrescentasse.
Determinou que nada me apartasse:
nem desfavor cruel, nem aspereza;
mas que em minha raríssima firmeza
vossa isenção cruel se executasse.
E pois tendes aqui oferecida
esta alma vossa a vosso sacrifício,
acabai de fartar vossa vontade.
Não lhe alargueis, Senhora, mais a vida;
acabará morrendo em seu ofício,
sua fé defendendo e lealdade.
Luís de Camões em Sonetos
«O
país está a trabalhar e há uma parte do país que está a exercer o legítimo
direito à greve. A parte que está a exercer legítimo direito à greve é a parte
minoritária, a parte largamente maioritária está a trabalhar e nós estamos
também a trabalhar", afirmou Luís Montenegro, numa curta declaração aos
jornalistas.»
ALGUMA
SE VEZ PODERÀ DIZER QUE, FACE A ESTAS ANÁLISES SOBRE A GREVE GREAL, ESTAMOS PERANTE
UM GOVERNO CREDÍVEL, RESPONSÁEL?
«O
fenómeno é comum a quase todos os países da OCDE e Portugal não foge à regra:
nas últimas décadas a taxa de sindicalização tem vindo a ser cada vez mais
baixa. Porque é que isto acontece? Mudanças no mundo e no mundo do trabalho em
concreto ajudam a explicar o declínio da sindicalização. Mas os sindicatos
avisam que não morreram e que, para os trabalhadores, continuam a ser o último
apoio quando tudo o resto falha.»
Patrícia Carvalho no Público
«Afinal,
que sentido tem exatamente a greve geral?
O propósito desta revisão da legislação laboral é desequilibrar a lei a favor
dos empregadores e diminuir a natureza coletiva das relações de trabalho.
Basta, aliás, recordar as palavras de alerta deixadas pela ministra do Trabalho
em entrevista à RTP, quando afirmou que “a lei que está em vigor tem algum
desequilíbrio em favor dos trabalhadores”. As propostas do Governo são de tal
forma “avançadas” que nem nos sonhos mais ambiciosos dos empregadores e dos
seus representantes se esperava um brinde destes.
Pedro Adão e Silva
«Os
herdeiros do passismo regressaram ao poder e querem retomar o caminho de intimidação
iniciado há 15 anos. Para eles, trabalha melhor quem tem medo, quem, por isso,
obedece e se cala.
Manuel
Loff
A
greve geral existiu
É uma derrota, a somar a outras que o executivo tem acumulado neste dossier. Da
união pouco usual das duas centrais sindicais à convocação de uma greve geral
que já não acontecia há 12 anos. Da quase ausência de quem, no espaço público,
defenda a bondade das mudanças à lei até ao embaraço provocado ao próprio
candidato presidencial Luís Marques Mendes. O Governo começou muito mal, sem
ter construído uma narrativa para as mudanças, e arrisca-se a acabar pior.
A greve geral existiu
De pouco servirá entrar na guerra de números que, como seria de esperar, estão
dentro da amplitude do exagero entre aquilo que os sindicatos exibem como uma
vitória e o que Governo e patrões dizem que foi uma derrota. O que é certo é
que a greve geral existiu mesmo e dificilmente deixará de ser um marco negativo
no percurso político deste executivo.»
David Pontes
Poemas quotidianos
como o sol
como a noite
como a vontade de comer
e o sono
como as preocupações
e o amor
e porque saio à rua
e trabalho
diariamente
António
Reis em Poemas
Quotidianos
Primeiro levaram os
comunistas,
Mas eu não me importei,
Porque não era nada
comigo.
Em seguida levaram
alguns operários,
Mas a mim não me
afectou
Porque eu não sou
operário.
Depois prenderam os
sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui
sindicalista.
Logo a seguir chegou a
vez
De alguns padres, mas
como
Nunca fui religioso,
também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.
Poema atribuído, entre outras autorias, a Bertold Brecht
Depois das críticas dos trabalhadores da RTP e de Salvador Sobral sobre a permanência de Portugal no certame, por causa da presença de Israel, uma petição ganha fôlego para exigir o país se retire, tal como fizeram Espanha, Irlanda e Países Baixos.
A
petição lançada a 5 de Dezembro para exigir a retirada de Portugal do Festival da
Eurovisão, já tem mais de 10 mil assinaturas.
«A proposta do governo, nas suas traves mestras, também provoca mais precariedade (contratos a termo certo com duração inicial de um ano, em vez dos seis meses atuais, e com possibilidade de duas renovações, até um limite de três anos); vai facilitar o despedimento, desprotegendo o trabalhador contra despedimento injustificado; promove uma maior desregulação dos horários e a precarização das condições de trabalho, enfraquece a contratação colectiva, a acção sindical e o direito à greve.
É legitimo propor este caminho, acreditando que é o caminho certo para aumentar a produtividade nas empresas, fazer crescer a economia e criar novos empregos. Mas entra no domínio da aldrabice política querer convencer alguém que tudo isto não é feito com perda de direitos para os trabalhadores.»
Paulo
Baldaia no Expresso
A
CGTP e a UGT marcaram uma Greve Geral contra as medidas laborais propostas pelo
governo.
Será
a primeira em 12 anos. A última, realizada pelas duas principais centrais
sindicais, a 27 de Junho de 2013, ocorreu durante a crise económica,
quando Portugal enfrentou um resgate financeiro e as suas consequências.
Luís
Montenegro, e acompanhantes, justificam a revisão da Lei Laboral com a
necessidade de modernizar a economia e diz que os trabalhadores não têm razão
para fazer greve.
Luís
Montenegro, e acompanhantes, afirmam que as medidas propostas visam aumentar a
flexibilidade do mercado de trabalho.
«Apresentámos
alterações a mais de 100 artigos, mais de 100 alterações, e estamos agora
disponíveis para uma consulta sobre essas alterações no âmbito da Concertação
Social e também estaremos disponíveis para isso no Parlamento. O objetivo é que
o resultado final possa confirmar o ajustamento da lei às exigências actuais da
nossa economia, ao funcionamento da nossa economia, à robustez da nossa
economia e ao funcionamento das nossas empresas»
Os
serviços mínimos vão abranger, na próxima quinta-feira, dia de greve geral, a
circulação de comboios, barcos e a Carris, em Lisboa, excluindo, todavia, o
Metro. As decisões foram reveladas este sábado pelo Conselho Económico e Social.
O direito à greve encontra-se consagrado no artigo 57.º da Constituição da
República Portuguesa. É um direito fundamental dos trabalhadores. O direito à
greve é irrenunciável. Todos os trabalhadores podem aderir à greve geral,
independentemente do sector de atividade, público ou privado, da natureza da
sua entidade patronal e da natureza do seu vínculo à entidade patronal e do
facto de se encontrarem sindicalizados ou não. O aviso prévio de greve
geral apresentado pela UGT e pela CGTP cobre todos os trabalhadores por conta
de outrem.
Mas há sempre que contar com velhos hábitos, como as ameaças que larga fatia do patronato exercerá sobre os trabalhadores.
Sei que é um exagero, mas gosto de tudo o que o Elvis canta e adianto que White Christmas adquire um outro sentido na voz do Rei.
Colaboração de Aida Santos.
Era um homem inseguro
desde que, em criança,
pendurado numa árvore,
sentira quebrar-se o
ramo
e estatelara-se no chão
como um pássaro bebé
acabado de sair do
ninho.
Transportou pela vida
esse sentimento de
queda,
a vertigem do alpinista
à borda do precipício.
Era alguém de confiança
que desconfiava do
mundo,
começando por si, desde
aquele dia de uma queda
continuada que findaria
apenas à hora da morte,
quando, adormecido de
pé,
tombou sobre o vazio
batendo com a cabeça
num coração de mármore.
Juraan
Vink, do "Livro das Memórias".
Versão
de HMBF em Antologia do Esquecimento
Robert Louis
Stevenson
Tradução: Helena
Barbas
Colecção: Mares
nº 59
Expo 98, Lisboa
Agosto de 1997
Estava uma manhã maravilhosa de finais de Julho quando
pela última vez me pus para o caminho de Aros. Na noite anterior um barco
tinha-me largado em terra de Grisapol. Tomei o pequeno-almoço que a modesta
estalagem me permitiu e, deixando ali toda a bagagem até que a pudesse vir
recolher por mar, ataquei pelo promontório de coração alegre.
Estava longe de ser um nativo destas partes, originário, como era, do tronco puro das terras baixas da Escócia. Mas um tio meu, Gordon Darnaway, depois de uma juventude pobre e rude, e de alguns anos no mar, tinha casado com uma jovem rapariga das ilhas. Mary Maclean, assim se chamava ela, a última representante da sua família. E quando ela morreu a dar à luz uma filha, Aros, a quinta cercada pelo mar, tinha ficado na posse dele. Não lhe trouxe nada alem de meios de subsistência, como eu bem sabia, mas era um homem a quem a má fortuna perseguira. Embaraçado como estava com uma criança pequena, receava voltar a arriscar-se nas aventuras da vida, e conservava-se em Aros, a roer as unhas contra o destino. Os anos passaram-lhe sobre a cabeça naquela solidão, e não lhe trouxeram nem auxílio, nem contentamento. Entretanto a nossa família ia morrendo na planície. Há pouca sorte para qualquer um daquela raça, e talvez o meu pai tivesse sido o mais afortunado de todos porque, não só foi um dos últimos a morrer, mas deixou um filho ao seu nome e um pouco de dinheiro para o sustentar. Eu era estudante na Universidade de Edimburgo, vivendo suficientemente bem às minhas custas, mas sem amigos e parentes. Quando algumas notícias acerca da minha pessoa fizeram caminho até ao rio Gordon, no Ross Grisapol, ele – que era um homem que considerava o sangue mais espesso que a água – escreveu-me no dia em que soube da minha existência, e instou-me a que considerasse Aros como o meu lar. Foi assim que acabei a passar as minhas férias naquela parte do país, tão distante de todo o convívio e conforto entre o bacalhau e as galinhas d’água escocesas. E era para isso que agora, depois de ter acabado as aulas, regressava com um coração tão leve nesse dia de Julho.
Por
motivos que só ele, ou a ministra do Trabalho, poderão clarificar, surgiu um
miserável pacote reformista dos direitos de quem trabalha muito e recebe pouco.
Causou
espanto e indignação.
Depois
de lida e relida a proposta, tanto a CGTP e a UGT, acabaram por concluir que
apenas uma Greve Geral, poderia levar o governo e os habituais acompanhantes, a
repensarem o disparate em que caíram.
A
Greve Geral ficou marcada para o dia 11 de Dezembro.
Entretanto, nada aconteceu, apenas acusações pífias: o governo desqualificou as motivações da greve,
lançando a acusação de que as centrais sindicais estão a mando dos partidos, esquecendo
(?) que o que motiva os trabalhadores é a própria reforma laboral.
Ainda reuniram com a UGT, que, entre outros, reúne trabalhadores apoiantes do PSD, mas o pacote é demasiado gravoso, para que remendos e remedinhos que apresentaram, servissem para demover a Greve Geral.
A
capa do CD não é nada bonita.
A
fotografia que escolheram abona pouco quem nela consentiu. Como diz Sammy,
apropriada para aqueles calendários que existiam nos calendários das paredes
das garagens de bairro.
Mas como se gosta de Diana Krall… e de Canções de Natal…
Num outro mar que desses morreria
e não invejo, pois, a só migalha
que a mão que tens mais leve certo dia
a outros pelo vento cega e espalha.
A mim, amor, só cabe, qual convém
para o centro da terra, teu miolo;
e, mais, do que isso, a tua chaga-mãe,
a perfeita descida do teu colo,
o lado fora, e nele o imo expresso
nos acidentes líricos do leito
em que, de ter-te, só me tenho e esqueço.
Em nada tenho tudo, dito e feito,
e nisso tens a estrela que mereço
brilhando perto, ao fundo do teu peito.
Pedro Tamen de Os Quarenta e Dois Sonetos em Tábua das Matéria
Gosto de futebol.
Aos 5 anos, com o meu avô,
rumámos ao Campo Grande, na velha «estância de madeira», e aí vi o primeiro
jogo em que o Benfica defrontou o Vitória de Setúbal. Na memória ficou que o
Benfica ganhou, o Setúbal tinha um avançado centro negro, de seu nome Melão, do
Benfica ficou gravada a bonita e elegante figura de José Águas.
Ao longo de todos estes
anos, vi os melhores jogadores do mundo, lembrarei sempre o Mundial de 1966,
aquele jogo do Eusébio contra a Coreia do Norte.
Vou-me desiludindo com os
caminhos que o futebol vai percorrendo e já pouco ou nada me entusiasma.
Ando a arrumar papéis
velhos e dei com recortes que registam a morte de George Best, possivelmente, a
primeira superstar do futebol mundial.
No dia da sua morte, os
jornais ingleses realçaram as várias exibições memoráveis George Best e, como
uma das mais brilhantes, lá vinha os quartos de final da Taça dos Campeões
Europeu, em 1966. Na Luz, a rebentar pelas costuras, Best marcou dois dos cinco
golos com que o Manchester presenteou o Benfica. Eu estive lá!
Dois anos depois, a final
dos Campeões Europeus no Estádio de Wembley, 1 a 1 no final do jogo mas a
segundos desse final, o Simões falha, à boca da baliza o segundo golo e, no
prolongamento, o George Best marcou o 2º golo que terminaria com o resultado de
4 a 1.
Nesse ano de 1968, Best tinha
22 anos, estava no pico da sua carreira, glória do Manchester United e da selecção da Irlanda, os seus colegas de equipa diziam que não havia nada que ele não conseguisse fazer em campo, que não havia posição no terreno que lhe fosse incómoda. Mas começou a chegar tarde e a faltar
aos treinos. Álcool, mulheres, noites que acabavam mal, algumas atrás das
grades nas esquadras de polícia.
Disse:
«Na minha vida gastei montanhas de dinheiro em
mulheres, vinhos e carros rápidos. O resto desperdicei…».
Um dia, Best sintetizou
exemplarmente a sua vida:
«Na América vivia numa casa perto da praia. No caminho
para lá, havia um bar, por isso nunca chegava à água.»
Também desmentiu um célebre rumor da época, segundo o qual tinha dormido com sete misses Mundo: «Foram só quatro!»
Legenda: fotografia na primeira página e destaque na 2ª e seguintes do Público de 26 de Novembro de 2005.
1.
A fuga de
impostos das multinacionais custa 2,9 milhões de euros por dia.
2.
Os Açores, a Madeira,
o Alentejo e o Algarve são as regiões portuguesas com taxas de mortalidade mais
elevadas.
3.
Foi ajustada a idade da reforma sem penalizações para o ano de 2027: serão quase 67 noas (66 e 11 meses), mais dois meses do que em 2026. É o valor
mais alto de sempre, um recorde que, ao que tudo indica, será batido ano após
ano enquanto a esperança média de vida continuar a subir.
Lembrem-se que mais anos de vida não significa necessariamente mais anos com
qualidade de vida.
4.
A CGTP e a UGT decidiram convocar uma
greve geral para 11 de Dezembro, em resposta ao anteprojecto de lei da reforma
da legislação laboral, apresentado pelo Governo.
O governo apenas tem
debitado as banalidades do costume!
5.
Desde o início do ano, Portugal perdeu 37 ecrãs de cinema e está em vias de ver extinguirem-se mais nove, num total de 46.
6.
Bernardo Gouvêa,
presidente do Instituto do Vinho e da Vinha, disse a Pedro Garcias do Fugas do Público que «Portugal produz vinho em quantidade suficiente para as
suas necessidades, mas, mesmo assim importa mais de 299 milhões de litros a
Espanha.»
Não sou especialista, mas entendo que estas misturas de uvas não ajudam à qualidade e sabor do vinho
e, possivelmente, ao preço.
Talvez por isso os vinhos alentejanos, tinham um sabor que hoje não encontro.
Soldados da GNR e guardas da PSP foram mandantes de agrários que mantiveram, em condições de trabalho e de vida completamente miseráveis, trabalhadores imigrantes.
Os nomes dos agrários não foram revelados, tão pouco se sabe se irão ser incriminados.
Ana
Sá Lopes lembra hoje no Público:
«Safra
Justa: quem não transcreveu as escutas aos elementos da GNR e ao agente da PSP?
O que é que aconteceu
para não terem sido transcritas? Durante um ano não houve funcionários capazes
para o fazer? Os procuradores esqueceram-se? No programa Expresso da Meia-Noite
da SIC Notícias, na passada sexta-feira, o advogado Manuel Magalhães e Silva
chegou a dizer que as escutas não foram transcritas “de propósito”. Isto é
particularmente grave porque se está a falar de crimes de quase escravatura
contra imigrantes.
No comunicado de 25 de
Novembro, a GNR diz que “tudo fará para que os autores sejam criminalmente
responsabilizados” e que na Guarda Nacional Republicana “não há lugar para
pessoas cujo comportamento possa corromper o compromisso de honra e
exemplaridade ética” que os militares assumiram “perante a sociedade e os
cidadãos”.
A IGAI – Inspecção-geral da Administração Interna – já abriu um inquérito
aos suspeitos. Só que, por causa de uma indesculpável acção do Ministério
Público, afinal, na GNR “há lugar para pessoas cujo comportamento possa
corromper o compromisso de honra”. O regresso ao trabalho destes militares sob suspeita
é de uma imensa gravidade e põe em causa a confiança dos cidadãos nas forças de
segurança.»
«O modo como muitos dos humanos estão virados para o telemóvel, canalizando para o ecrã todas as suas possibilidades corporais e toda a sua actividade intelectual, é semelhante à adoração obsessiva por um deus. Como se o ecrã do telemóvel fosse um pequeno altar portátil que exige uma espécie de oração quase contínua – nunca na História existiu religião mais exigente de atenção por parte do devoto.
Talvez seja, então, o
momento de mudar de Deuses, e do deus-ecrã se passar para a velha Deusa que
Goethe adorava, a Deusa da Presença.»
Gonçalo
M. Tavares