O Medo
Trabalho Poético
1974-1997
Al Berto
Assírio &
Alvim, Lisboa, Maio de 2005
esqueço-me de tudo,
por isso escrevo. longe do terror ao
sismo inesperado das estrelas, escrevo com a
certeza de que tudo
o que escrevo se apagará do papel no momento da
minha morte.
o olhar fugiu pelos
interstícios dos objectos, sinto-me como
se tivesse cegado por excesso de olhar o mundo.
as palavras para
nomear o que é belo definharam, raramente
as escrevo, penso-as
só. aqui sentado, imobilizado sob a luz
amarelenta do candeeiro,
continuo a desejar aquilo que nunca verei: a
cintilação dum corpo
na cal, o sorriso dum rosto ardendo de suicídio
em suicídio.
ignoro o mundo e a noite
que o envolve e devora. deixo
escoar o cansaço do corpo pela janela do quarto.
fecho os olhos,
finjo o sono, e vou pelos lugares desabitados do
meu corpo.
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