quinta-feira, 8 de outubro de 2015

OS IDOS DE OUTUBRO DE 1975


8 de Outubro de 1975

Segundo o Comité Central da Fretilin, às primeiras horas da manhã, a Indonésia, com unidades do Exército, Marinha e Força Aérea, terá lançado um grande ataque contra a povoação fronteiriça de Batugalé, em Timor ainda sobre a protecção portuguesa.

Há uma semana a Fretilin lograra expulsar da Batugalé as forças d UDT e seus aliados, ficando a controlar todo o Timor Português, à excepção da Ilha do Ataúro, onde se mantém o governador Lemos Pires.

A conquista de Batugadé e, dentro de uma semana, de Balibó, marca o início efectivo da invasão indonésia de Timor.

Após o 25 de Abril por motivos pouco claros, Timor nunca conseguiu fazer parte dos planos de autodeterminação das colónias portuguesas.

Portugal abandonava um povo que durante séculos fora feitoria e colónia.

O Governo Português autorizou a criação de partidos políticos, surgindo assim três organizações partidárias em Timor Leste: UDT (União Democrática Timorense), que preconizava a integração de Timor numa comunidade de língua portuguesa; a ASDT (Associação Social-Democrata Timorense) depois transformada em FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente) , defendia o direito à independência; e a APODETI (Associação Popular Democrática Timorense), propunha a integração com autonomia na comunidade Indonésia.


Em 11 de Julho de 1975, foi publicada a lei que previa a nomeação de um Alto Comissário português, e, em Outubro do mesmo ano, a eleição de uma Assembleia Popular para definir o seu estatuto político. O diploma previa um período de transição de cerca de três anos.

Segundo observadores de então, a esmagadora maioria dos timorenses recusava totalmente a integração na Indonésia.

Começou, então, uma luta fraticida e partidária de que resultarão milhares de mortos.

No dia 28 de Novembro de 1975, após 400 anos de administração, a bandeira portuguesa é arriada na praça de Dili e é proclamada, pela FRETILIN, a independência do território.

No dia seguinte tropas indonésias, a pretexto de proteger os seus cidadãos em território timorense lançam uma ofensiva com vista à ocupação do território e de imediato se fica  a saber que a FRETILIN não tem forças nem armamento suficientes para fazer face ao ataque indonésio.


Em 1998, com a queda de Suharto, e após uma longa e sangrenta luta de resistência do povo timorense, cujo marco trágico é, em Novembro de 1991, o massacre do Cemitériode Santa Cruz. os novos governantes, sob pressão internacional, acabam por concordar com a realização de um referendo onde a população votaria "sim" se quisesse a integração na Indonésia com autonomia, e "não" se preferisse a independência.

O referendo foi realizado em 30 de Agosto de 1999 e, com mais de 90% de participação no referendo e 78,5% de votos, o Povo Timorense rejeitou a autonomia proposta pela Indonésia, escolhendo, assim, a independência.

Em 20 de Maio de 2002 nasce um novo país: Timor Lorosae.

Por mera curiosidade, retira-se das Farpas, Vol. XIII de Ramalho Ortigão, um texto, datado de Agosto de 1872, com notícias de Timor:

Eis o que um viajante inglês, Russell Wallace, diz em resumo daquela colónia, onde chegou depois de ter atravessado as ricas e poderosas colónias holandesas:

«Metade de Timor, pertence aos portugueses: é extraordinário o contraste entre esta região e a parte holandesa: há três séculos que os portugueses a possuem e não há em todo o país uma légua de estrada, nenhum residente europeu no interior. Os


empregados do governo roubam os indígenas, como num saque, e apesar disso nenhum meio de defesa no caso de um ataque da cidade de Dilhi. Os oficiais portugueses são ali tão ignorantes que tendo recebido um pequeno morteiro e obuses não sabiam servir-se deles. Durante a estada de Russell Wallace, rebentou uma ressurreição: o comandante que a devia combater fechou-se em casa dando parte de doente: os insurgentes cortavam com toda a facilidade os víveres à cidade, de sorte que foi necessário ir suplicar um socorro tardio ao governador holandês de Amboine…»

Desleixo, roubo, estupidez e covardia! Parece-nos que Portugal seria exigente, - desejando aos que governam e defendem as suas colónias – maior soma de qualidades nobres.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
As Farpas, Vol. XIII, de Ramalho Ortigão, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1945 

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