terça-feira, 20 de outubro de 2015

OLHAR AS CAPAS


O Pai Francês

Alain Elkann
Tradução de Virgílio Tenreiro Viseu 
Cavalo de Ferro Editores, Lisboa, Setembro de 2004

Em que é que sinto a falta do meu pai? O que é um pai quando já não existe? Quer dizer que nos tornámos pais, que já ninguém nos consola ou nos ralha, que já ninguém é o nosso chefe ou o nosso melhor amigo? Quer dizer que a nossa vida já não é ilimitada? Mais alguns anos e seremos nós os velhos que irão morrer. Fiquei sozinho e devo prosseguir. Muitas vezes, quando me encontro perante uma decisão a tomar, pergunto-me o que é o que meu pai
teria feito no meu lugar, que conselhos me daria. Quando ele era vivo, eu raramente escutava os seus conselhos, mas agora que ele já cá não está... Às vezes não sei a quem me devo dirigir, devo fazer as coisas sozinho, encontrar energia dentro de mim. Damo-nos conta de que os filhos não substituem os pais. Com eles não se podem dizer as mesmas coisas. Não podemos ser fracos com os filhos, não nos podemos fazer consolar. A eles é preciso dar boas notícias, guiá-los, consolá-los, ajudá-los e, sobretudo, fazer-lhes falar de si próprios: sempre e apenas de si próprios. É assim, também nós não ajudávamos os nossos pais, e aquilo que nos falta é o
facto de já não estarem ali, prontos a ouvir-nos.

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