sábado, 17 de outubro de 2015

O LUGAR DA SOLIDÃO



Era assim que Fernando Lopes Graça se passeava nas ruas da Parede quando saía para fazer compras.

A fotografia é de Rui Ochoa e faz parte de um trabalho de Joaquim Vieira, publicado no Expresso de 31 de Dezembro de 1981.

Não é uma reprodução de qualidade mas não quis deixar de a publicar.

A vida é isto, os homens são assim.

Álvaro Guerra escreveu que nascer é inaugurar a solidão.

Nem todos os bi menois que Fernando Lopes Graça escreveu, por vezes, lhe permitiram ultrapassar a esquina terrível da solidão.

Escolheu-a porque, para fazer o seu trabalho, não queria intromissões.

O preço que pagou para deixar uma obra grandiosa.

José Gomes Ferreira tinha razão:

Olhem-no bem, porque nunca mais veremos um homem assim.

Numa noite olga prats acompanhava-o  a casa, e o Graça disse-lhe:

Eu agora não queria ficar sozinho, fosse quem fosse, homem ou mulher, rapaz ou rapariga, nem que fosse um cão.

José Saramago:

Morreu o Fernando Lopes-Graça. Telefonaram hoje da TSF, muito cedo, para pedir-me, como depois verifiquei no gravador, o cumprimento desse dever mediático a que se dá o nome de depoimento. Deixaram números de telefone, mas não liguei. Por pudor acho eu. E agora acabo de saber, por Carmélia, que o Graça morreu sozinho. Creio que esta última solidão me doeu mais ainda que a própria morte. Não vai faltar quem diga que o Lopes Graça morrendo aos 88 anos, tinha vivido já a sua vida. Como frase de consolação, talvez sirva para quem se satisfaça com o que lhe foi dado. Por mim, penso que nunca acabamos de viver a nossa vida.

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