A minha pátria é a distância que me separa de casa.
Dei novos mundos ao mundo porque não tinha mais nada
para dar.
Agora, os mundos estão praticamente esgotados e eu
também. Mas continuo ausente, a ser o quanto mais longe melhor. Em casa, só me
conhecem de férias ou vale postal.
Criei uma palavra que as outras línguas não conhecem:
uma saudade com quem morro.
Não faço questão no meu caminhar marítimo. Tanto vou a
pé como no Sud Express ou no avião meninas pintadas me ralham por eu comer do
frango a aperna à mão.
Raros que oiço e vejo o hino e a bandeira fazem-me
chorar e imaginar a terra dada a enxada de meus pais, a sardinha no pão, as
festas do São João, o nascimento repetido de um irmão. E a fronteira.
Ou a casa é pequena ou eu sou muito grande.
Sou um estrangeiro. Sustento-me da memória simples de
um lugar que nunca tive.
A pátria não consegue afastar-me de mim. O melhor
chega-me da ausência.
Sou emigrante, descobrir de pão, rejeitado pelo fado,
navegador da sopa de feijão, operário especializado, construtor civil e
militar, pescador americano, porteiro de fábrica holandês, carpinteiro alemão,
gigante e anão.
A pátria é onde eu deposito a minha paixão. Aliás
retribuída pelo extracto da conta corrente, modesta como eu.
Álvaro Guerra
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