Bendito povo que preencheu as matrizes (vulgo, votos),
na extração de 4 de outubro. A chave vencedora foi: 107-86-19-17-1. É uma
simples sucessão de números e cada qual pode fazer a interpretação cabalística
que quiser. Ora é essa liberdade que me leva à gratidão. Fosse outra a chave,
com 116 seguido de outros quaisquer números - isto é, se um concorrente
ultrapassasse a metade de 230 mais um - andávamos sem assunto. E eu sei, nós
sabemos, o que é um povo sem assunto: discute nos cafés e lê nas manchetes as
pizas entregues na Rua Abade de Faria. Hoje, graças ao curto 107, discute--se
política. Para ser mais exato, graças a não termos nada superior a 115. Menos
ou igual a 115 é que devia ser o número nacional de emergência, em vez do 112.
Obrigado, pois, a todos, por um pequeno passo eleitoral mas um salto gigantesco
para a nossa sanidade mental: da piza (pepperoni extraqueijo?) para a política!
Estarmos aqui, na política, permite-nos ouvir pessoas avisadas, como Bagão
Félix, dizer, hoje, sobre um governo com o PC: credo! E cotejá-lo com o que ele
disse há quatro anos quando o PSD e o CDS talvez pudessem precisar dos
comunistas: "Há uma solução que é um governo PSD, CDS e PCP [e] não me
repugnava que num governo desse tipo o PCP tivesse uma pasta social ou do trabalho."
E o importante não são as contradições de Bagão, pelo contrário, é haver
momentos destes, contraditórios, que nos ensinam a não nos deixar comer como
pizas.
Ferreira
Fernandes, hoje, no Diário de Notícias.
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