Não foi sério. O que o governo cessante fez no caso da
devolução da sobretaxa sobre o IRS tem um nome suave (manipulação) e outro
menos suave (falcatrua).
O Governo calou-se, guardou os dados para si e começou
a soltá-los no Verão: 12%, 20%, em agosto ultrapassava os 35% e, com a euforia
no ar e as eleições a aquecer, os “spin doctors” foram fazendo chegar às
redacções a mensagem de que, por este andar, seria mesmo possível devolver 50%
da sobretaxa no próximo ano devido à espectacular recuperação da economia.
Azar. Em Setembro, a quebra na cobrança do IRS colocou
a devolução do IRS em apenas 9,7%, o que significa que em vez de os
contribuintes continuarem a suportar uma sobretaxa de 3,5% ela poderá
reduzir-se para apenas 3,2%. Mas claro que este valor, por uma enorme
coincidência, só foi conhecido depois das eleições de 4 de Outubro.
Não há duas formas de classificar o comportamento do
Ministério das Finanças e do Governo: manipularam deliberadamente a informação
para captar o voto dos eleitores. E receberam a discreta ajuda de empresas como
a Somague e a Unicer, que só fizeram os despedimentos colectivos que já tinham
previstos na semana a seguir às eleições. É bom recordar estes comportamentos
quando vierem falar ao país de ética.
Nicolau Santos
no Expresso, citado de Entre as Brumas da Memória.
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