Lúcialima
Maria Velho da
Costa
Capa: Paula Rego
Edições «O
Jornal», Lisboa, Abril de 1983
- Ó pá, é uma bomba!
- Viva a República, onde?
- Deixa-te de gozo, pá, esta abana o regime até ao
osso, o Henrique Galvão sequestrou o Santa Maria.
- O quê?, diz lá isso outra vez.
- Sequestrou, com mais vinte gajos, pá, apanharam o
navio a caminho do Brasil e fizeram declarações contra o governo na Imprensa
Internacional, uma escandaleira.
- Como é que soubeste?
- Disse o Caldas, ouviu-se na rádio estrangeira, a BBC
e tudo.
- Pode lá ser, isso são fantasias de merda.
- Chama-lhe fantasias, o Galvão é doido bastante para
se sair com uma destas, isto não pode continuar assim, a opinião internacional
- Está-se cagando, pá, de depois do Delgado, a
oposição sabe que ladra mas não morde.
- Olha, pá, não é assim, isto vai dar muita bronca, a
questão de Goa, e as colónias, tu já viste quando o Botas morrer?
- O Salazar é imortal, Juvenal, o Salazar é a pátria e
a pátria com o Salazar fez-se mais Salazar do que antes, fez-se Salazar mesmo,
medíocre, reles, fazendo da suficiência peca valor é tico e retórica,
jesuitismo judeu é o que é o que isto é tudo, manha e verborreia, olha para nós
para isto.
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