Quando por aqui se fez nota que os 15 anos do Cais do Olhar só por mero acaso deele se deu conta, aproveitou-se para acrescentar:
«Decididamente, números
redondos para aqui não são chamados.
Pelos 10 anos do Cais
do Olhar ainda arranjámos uma antologia de textos.
Que fazer?
Iremos re(publicando) o
que, fruto do acaso dos dias, se for encontrando.
Pelos 10 anos do Cais
do Olhar ainda arranjámos uma antologia de textos.
Que fazer?
Iremos re(publicando) o
que, fruto do acaso dos dias, se for encontrando.»
Mas
já em 29 de Outubro de 2024, sabe-se lá porquê, se falava que iríamos (re)publicando
alguns textos antigos:
«REOLHARES vai buscar textos antigos publicados neste Cais do Olhar.»
Assim
iremos fazendo.
Hoje
ficamos com um texto sobre o livro de José Saramago Alabardas, Alabardas, publicado
em 22 de Abril de 2022:
«Agora que já colocámos Alabardas,
alabardas no Olhar as Capas, convém vir a terreiro dizer que, a
juntar às excelentes páginas iniciais que Saramago nos deixou, estamos perante
uma edição belíssima.
Há que começar por referir as ilustrações
que, Gunter Grass, um outro Nobel da Literatura, fez para o livro de Saramago.
Depois falemos dos textos que completam a edição: Um Livro Inacabado, Uma
Vontade Firme, de Fernando Gómez Aguilera, Também Eu Conheci
Artur Paz Semedo de Roberto Saviano e o Caderno de Notas que José
Saramago deixou sobre Alabardas, alabardas, Espingardas,
espingardas e que permite sabermos de alguns passos que o autor
percorreu, principalmente as primeiras palavras escritas nesse caderno a 15 de
Agosto de 2009: «Afinal, talvez ainda vá escrever outro livro.»
Esse livro está muitíssimo bem paginado,
concebido com gosto e oferece-nos algo que não é muito corrente no que se vai
publicando.
Uma nota curiosa é que na margem de algumas
páginas, a vermelho são destacadas algumas frases e ideias do livro, tal como
se mostra na imagem que está no topo deste texto. Serão essas notas, 16 ao todo
e que serão os Sublinhados Saramaguianos de hoje.
O único senão do livro é que está escrito
debaixo do chapéu do Acordo Ortográfico 90 que nos foi imposto desde 2011, um
hediondo crime.
Resta saber com que acordo ortográfico, José
Saramago escreveu estas páginas.
Mas da Porto Editora, ou da D. Pilar, não se
espera nem sequer um mero esclarecimento.
1.
«Amante
apaixonado das armas de fogo, jamais disparou um tiro, não é sequer caçador de
fim de semana». – página 14
2.
«Nessa
mesma noite, depois do jantar, sentou-se na sua poltrona favorita, abriu
l’espoir e avançou pela guerra civil de espanha dentro». – página 20
3.
«Aos
operários fuzilados em milão por terem sabotado obuses, hurra». Página 21
4.
«O
sentir humano é uma espécie de caleidoscópio instável». – página 22
5.
«Não
procures encomendas assinadas pelo general franco, não as encontrarias, os
ditadores só usam a caneta para assinar condenações à morte». - página 29
6.
«Uma
metralhadora ligeira não lhe passa pela cabeça ser ofendida por não poder competir
com um canhão de tiro rápido». –
página 32
7.
«Por
isso é que se diz de alguém estar à altura da oportunidade, é tudo questão de
sorte». – página 35
8.
«Pensei
que teria sido um tempo de grande atividade para a empresa, com efeitos
contabilísticos importantes. Por outras palavras, que devemos ter ganho muito
dinheiro». – página 38
9.
«Todos
os países, quaisquer que sejam, capitalistas, comunistas ou fascistas,
fabricam, vendem e compram armas, e não é raro que as usem contra os seus
próprios naturais» - pág. 39.
10.
«Hoje
reina a tranquilidade, a tranquilidade social, quero dizer. Que nunca é de
fiar, disse o velho, é como a calma das águas profundas, aparência e nada
mais». - página. 45
11.
«Sentia-se
como um sansão, capaz de derrubar com um sopro todas as colunas do templo e
matar os filisteus de uma assentada».
– página. 50
12.
Artur
paz semedo nunca esquecerá este dia, o solene momento em que se levantou da sua
mesa de contabilista para baixar às profundezas do ignoto passado». página 53
13.
«Artur
paz semedo compreendeu que era altura de retirar-se para território conhecido,
regressar à sua mesa de trabalho, aos seus números, às suas faturas e aí,
esperar que os obstáculos levantados pelo chefe do arquivo fossem removidos por
quem de direito». página 58
14.
«Burilar
a frase é o mais importante nas comunicações entre humanos». - página 61
14.
«A
prudência manda que no passado só se deva tocar com pinças, e mesmo assim
desinfetadas para evitar contágios». -
página 62
15.
Desta
vez, artur paz semedo não correu uma aura de nova dignidade parecia rodear-lhe
a cabeça quando, em passo medido, atravessou a subsecção que dirigia e entrou
no extenso corredor que o levaria ao seu destino». - página 74
16.
Diplomacia, portanto. Toda a gente gosta de ser bem tratada.» - página 77.
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