terça-feira, 11 de março de 2025

REOLHARES


Quando por aqui se fez nota que os 15 anos do Cais do Olhar só por mero acaso deele se deu conta, aproveitou-se para acrescentar:

«Decididamente, números redondos para aqui não são chamados.

Pelos 10 anos do Cais do Olhar ainda arranjámos uma antologia de textos.

Que fazer?

Iremos re(publicando) o que, fruto do acaso dos dias, se for encontrando.

Pelos 10 anos do Cais do Olhar ainda arranjámos uma antologia de textos.

Que fazer?

Iremos re(publicando) o que, fruto do acaso dos dias, se for encontrando.»

Mas já em 29 de Outubro de 2024, sabe-se lá porquê, se falava que iríamos (re)publicando alguns textos antigos:


«REOLHARES vai buscar textos antigos publicados neste Cais do Olhar.»

Assim iremos fazendo.

Hoje ficamos com um texto sobre o livro de José Saramago Alabardas, Alabardas, publicado em 22 de Abril de 2022:

«Agora que já colocámos Alabardas, alabardas no Olhar as Capas, convém vir a terreiro dizer que, a juntar às excelentes páginas iniciais que Saramago nos deixou, estamos perante uma edição belíssima.

Há que começar por referir as ilustrações que, Gunter Grass, um outro Nobel da Literatura, fez para o livro de Saramago. Depois falemos dos textos que completam a edição: Um Livro Inacabado, Uma Vontade Firme, de Fernando Gómez Aguilera, Também Eu Conheci Artur Paz Semedo de Roberto Saviano e o Caderno de Notas que José Saramago deixou sobre Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas e que permite sabermos de alguns passos que o autor percorreu, principalmente as primeiras palavras escritas nesse caderno a 15 de Agosto de 2009: «Afinal, talvez ainda vá escrever outro livro.»

Esse livro está muitíssimo bem paginado, concebido com gosto e oferece-nos algo que não é muito corrente no que se vai publicando.

Uma nota curiosa é que na margem de algumas páginas, a vermelho são destacadas algumas frases e ideias do livro, tal como se mostra na imagem que está no topo deste texto. Serão essas notas, 16 ao todo e que serão os Sublinhados Saramaguianos de hoje.

O único senão do livro é que está escrito debaixo do chapéu do Acordo Ortográfico 90 que nos foi imposto desde 2011, um hediondo crime.

Resta saber com que acordo ortográfico, José Saramago escreveu estas páginas.

Mas da Porto Editora, ou da D. Pilar, não se espera nem sequer um mero esclarecimento.

1.

«Amante apaixonado das armas de fogo, jamais disparou um tiro, não é sequer caçador de fim de semana». – página 14

2.

«Nessa mesma noite, depois do jantar, sentou-se na sua poltrona favorita, abriu l’espoir e avançou pela guerra civil de espanha dentro». – página 20

3.

«Aos operários fuzilados em milão por terem sabotado obuses, hurra». Página 21

4.

«O sentir humano é uma espécie de caleidoscópio instável». – página 22

5.

«Não procures encomendas assinadas pelo general franco, não as encontrarias, os ditadores só usam a caneta para assinar condenações à morte». - página 29

6.

«Uma metralhadora ligeira não lhe passa pela cabeça ser ofendida por não poder competir com um canhão de tiro rápido». – página 32

7.

«Por isso é que se diz de alguém estar à altura da oportunidade, é tudo questão de sorte». – página 35

8.

«Pensei que teria sido um tempo de grande atividade para a empresa, com efeitos contabilísticos importantes. Por outras palavras, que devemos ter ganho muito dinheiro». – página 38

9.

«Todos os países, quaisquer que sejam, capitalistas, comunistas ou fascistas, fabricam, vendem e compram armas, e não é raro que as usem contra os seus próprios naturais» - pág. 39.

10.

«Hoje reina a tranquilidade, a tranquilidade social, quero dizer. Que nunca é de fiar, disse o velho, é como a calma das águas profundas, aparência e nada mais». - página. 45

11.

«Sentia-se como um sansão, capaz de derrubar com um sopro todas as colunas do templo e matar os filisteus de uma assentada». – página. 50

12.

Artur paz semedo nunca esquecerá este dia, o solene momento em que se levantou da sua mesa de contabilista para baixar às profundezas do ignoto passado». página 53

13.

«Artur paz semedo compreendeu que era altura de retirar-se para território conhecido, regressar à sua mesa de trabalho, aos seus números, às suas faturas e aí, esperar que os obstáculos levantados pelo chefe do arquivo fossem removidos por quem de direito». página 58

14.

«Burilar a frase é o mais importante nas comunicações entre humanos». - página 61

14.

«A prudência manda que no passado só se deva tocar com pinças, e mesmo assim desinfetadas para evitar contágios». - página 62

15.

Desta vez, artur paz semedo não correu uma aura de nova dignidade parecia rodear-lhe a cabeça quando, em passo medido, atravessou a subsecção que dirigia e entrou no extenso corredor que o levaria ao seu destino». - página 74

16.

Diplomacia, portanto. Toda a gente gosta de ser bem tratada.» - página 77.

Sem comentários: