quarta-feira, 3 de agosto de 2022

AVANTE P'LO BENFICA!


Há alguns anos, Mário Castrim, numa das suas críticas de televisão no Diário de Lisboa, deixou escrito:

«Quem já leu Jack London, fecha os olhos quando entram os cãezinhos do circo.»

Nunca apreciei o espectáculo que o meu clube, antes do começo dos jogos, oferece aos espectadores com o voo da águia vitória.

Também não concordo com o «speaker» do estádio quando informa que vais ser cantado o hino do Sport Lisboa e Benfica.

O que eles põem a tocar é «Ser Benfiquista», uma cançoneta do Luís Piçarra, nunca o hino do clube.

A leviandade, a ignorância têm destas coisas lamentáveis.

Por isso retardo sempre a entrada no estádio para não ter que ver e ouvir disparates.

A águia é uma ave nobre que não pode estar sujeita a cenas circenses de péssimo gosto.

Sobre isso uma organização inglesa, que se dedica aos direitos dos animais, revelou ter enviado uma carta ao Benfica a pedir que retire a águia dos jogos do clube, e acrecentam:

«O lugar das águias não é em eventos desportivos. Na natureza, estas aves magníficas percorrem vastos territórios, passam a maior oparte do seu tempo acima das árvores, voam livremente e caçam em espaços amplos.»

Tenho a quase certeza que estas palavras caíram em cesto roto.

Quanto ao hino do Sport Lisboa e Benfica, volto a contar :

Este é o verdadeiro Hino do Sport Lisboa e Benfica cantado pelo Orfeão do Glorioso.

Quando sentado na catedral, ouve o speaker do Estádio, com uma histeria de levantar fantasmas a dizer e agora, cachecóis ao alto, a uma só voz, cantemos o hino do Sport Lisboa e Benfica, fica todo pele de galinha.

O que se ouve é Luís Piçarra a cantar o Ser Benfiquista que, segundo António Vilarigues, no seu blogue O Castendo, é uma cançoneta apresentada a 16 de Abril de 1953, num sarau, no Pavilhão dos Desportos, para angariação de fundos destinados à construção do Estádio, com letra e música de Paulino Gomes Júnior, um confesso salazarista.

Abra-se um parêntesis para dizer que Luís Piçarra, um ferrenho benfiquista,  foi pessimamente tratado, nos últimos anos de uma vida muito difícil, por sucessivas direcções do clube.

Diga-se que  o Hino do Sport Lisboa e Benfica dá pelo nome de Avante, Avante p’lo Benfica, data de 1929, tempo do 25º aniversário do clube, tem letra de Felix Bermudes, um democrata e um homem da Cultura, e música de Alves Coelho.

É esta a letra do hino:

Do velho Clube Campeão,
Que um nobre esforço imortaliza,
Em gloriosa tradição.

Olhando altivo o seu passado,

Pode ter fé no seu futuro.
Pois conservou imaculado
Um ideal sincero e puro.

Avante, avante p'lo Benfica,

Que uma aura triunfante Glorifica!
E vós, ó rapazes, com fogo sagrado,
Honrai agora os ases
Que nos honraram o passado!

Olhemos fitos essa Águia altiva,

Essa Águia heráldica e suprema,
Padrão da raça ardente e viva,
Erguendo ao alto o nosso emblema!

Com sacrifício e devoção

Com decisão serena e calma,
Dêmos-lhe o nosso coração!
Dêmos-lhe a fé, a alma!

Claro que este Avante, Avante p’lo Benfica fazia comichões ao ditador Salazar que acabou por ordenar que o hino deixasse de ser cantado.

Ordens expressas foram, mais tarde, dadas à Censura para que os jornalistas não designassem os jogadores do clube por «vermelhos» mas sim por «encarnados.»


3 comentários:

Seve disse...

Belo trabalho, Sammy.
Saudações Leoninas

Sammy, o paquete disse...

Quaisquer que sejam, as saudações são sempre bem-vindas. Obrigado.
Sou mesmo do tempo em que o FCP era um clube regional e ainda não tinha surgido aquele que entendeu, estupidamente, e não só, abrir, por causa do futebol, uma guerra norte-sul-basto provinciana.
A minha infância futebolistica povou-se pela existência do Benfica e do Sporting e apenas existia sã rivalidade.
O pior veio muito depois e, lentamente, o futebol começou a destruir-se.
Ainda vou olhnado, mas perdeu todo o encantamento.
Abraço

Seve disse...

Perfeitamente de acordo. A partir do momento em que o futebol passou a ser uma indústria o seu encanto e a sua magia foram-se esfumando.
Abraço