segunda-feira, 1 de junho de 2020

YONVILLE


viu que o tempo atravessava tudo
entrava nas cabeças
desfazia pequenas ligações interiores
enlouquecia

sobre os cabelos caía
uma poeira de mãos rápidas
a rede quase invisível
à volta dos lábios

escondia os livros mais importantes
desfazia os dias em tarefas inúteis
atraiçoava os amigoa com amantes desdichados

secretamente sabia
o tempo vai transformar-nos
em glosas esventradas de nós mesmos
vai pôr a rezar os poetas mais obscuros
leva-nos pela mão
arrasa

olhou o horizonte e suspirou
era vasto demais
o prado e o céu juntavam-se

insuportável
como toda a paz campestre

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