Crónicas e Discursos
António Borges Coelho
Capa: Rui Garrido
Editorial Caminho, Lisboa, Abril de 2024
Do saco sem fundo das palavras retirei Amizade e Esperança.
A Amizade vive do idêntico e do contrário, sustenta a claridade dos dias.
A qualquer momento, perto ou longe, liga a mem´ria e os afectos. Povoa a
solidão. Fortalece. Suspensos pelos seus laços conseguimos saltar sobre o fundo
dos abismos.
Mas a esperança? Dourava as diferentes bandeiras que muitos da minha
geração desfraldaram.
Mas, hoje, em quê? Na resolução da crise financeira? Na última
sondagem? No euromilhões? Em Nossa Senhora de Fátima?
A esperança de que falo vê e inventa mulheres e homens que anonimamente
acendem a alegria nos gestos quotidianos mais simples, na voz humana, nas mãos
jovens ou nodosas, brancas, negras ou amarelas que se apertam. As segregações
explodem, mas somos casa vez mais mestiços, mais humanos. A Esperança de que
falo desemboca em multidões na rua larga em defesa da dignidade e das
liberdades conquistadas em séculos de invenção, de luta, e de sangue. A
esperança de que falo amanhece com um sorriso nos lábios.
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