quinta-feira, 15 de julho de 2010

TERRA DO PECADO


Terra do Pecado

José Saramago
Editorial Minerva, Lisboa, 1947

Os Poemas Possíveis de José Saramago, nº 22 da Colecção Poetas de Hoje da Portugália Editora, publicado em Julho de 1966, não tem indicação que, do autor, existissem obras anteriormente publicadas.

Deste pormenor, se poderia inferir que este livro de poemas, era o primeiro publicado pelo autor.

Mas ao Jornal de Notícias, 10 de Novembro de 1966, entrevista conduzida por Serafim Ferreira, é-lhe perguntado: 

- Os Poemas Possíveis  é o seu primeiro livro, mas certamente não será o último: diga-nos, pois, quais os seus projectos literários a realizar em breve?

- Os Poemas Possíveis não é o meu primeiro livro. Vai para 20 anos publiquei um mau romance que acabou, sem glória, ao lado de muita coisa boa, nos tabuleiros. Ganhou assim uma difusão que doutra maneira não teria… É que o negócio dos arrematadores, para que fosse suficientemente rentável, uma “distribuição” tão eficiente que chegasse à mais escondida das nossas aldeias. Quero crer que não ficou um livro por vender.
Quanto a projectos, não os tenho, pelo menos a curto prazo. Continuarei a escrever, ao sabor dos meus “choques”. Outros livros? É possível. Tudo é possível. E quem sabe se um segundo livro de poemas não virá a ter o verlainiano título de Provavelmente?


Numa entrevista ao semanário “Independente” de 17 de Maio de 1991, José Saramago conta a história desse seu primeiro livro:

«Escrevi o meu primeiro livro aos 25 anos, em 1947. Chamava-se a “Viúva”. Foi publicado pela Minerva, mas o editor achou que "Terra do Pecado" não era um título comercial e sugeriu que se chamasse “A Viúva”. Pobre de mim, queria era ver o livro editado e assim saiu. De pecados sabia muito pouco e, embora a história comporte alguma actividade pecaminosa, não eram coisas vividas, eram coisas que resultavam mais das leituras feitas do que duma experiência própria. Não incluo na minha bibliografia, apesar de os meus amigos insistirem que não é tão mau como eu teimo em dizer. Mas como o título não foi meu e detesto aquele título... Acho que é por isso que resisto a aceitá-lo. Um dia, quem sabe se não reconhecerei a paternidade uma vez que há por aí exemplares. Ainda outro dia encontrei um, numa dessas bancas em segunda mão, e paguei por ele oito contos. Com desconto, porque o homem reconheceu-me e abateu-me quinhentos escudos. Um preço completamente disparatado e exorbitante»

Nos Diálogos Com Saramago, de Carlos Reis, a propósito de Terra do Pecado, Saramago diz: 

«Como eu tenho um livro que publiquei( ou melhor: publicaram-mo) ,a conclusão parece fácil: este senhor preparou-se para escritor muito cedo. Mas (questão que há que deixar muito clara) acontece que eu não me preparei: aquele senhor escreveu aquele livro, mas não com a consciência de que se tinha preparado para ser escritor. Aquele livro resulta do seguimento de leituras mal arrumadas e mal organizadas – e saiu aquilo. Há quem diga que o livro, apesar de tudo, não é assim tão mau e que está correctamente escrito. E eu tenho a impressão de que sim.»

Carlos Reis esclarece que, quando Terra do Pecado foi publicado, «estava vivo e activo o Neo-Realismo.» E acrescenta: «A história é escorreitamente narrada, as personagens são delineadas com correcção e os cenários adequadamente compostos.»

Durante muitos anos, Saramago não permitiu que Terra do Pecado fizesse parte da sua bibliografia.

Mas em 1997, passados 50 anos sobre a sua publicação, e correspondendo a insistentes pedidos do seu editor, permite uma nova edição do livro.

Fernando Venâncio, um crítico que não morre de amores pela obra de José Saramago, ou por José Saramago ele próprio, publicou no “JL” de 2 de Março de 1997, uma crítica a que deu o título «Moço Promissor» e que, a terminar, diz assim:

«Terra do Pecado um fiasco? Bem longe disso. Antes e depois de 1947, escreveram-se entre nós romances muitos pontos abaixo deste. A primeira obra de José Saramago pode ser ainda pouco “saramaguina”. Mas é um livro profundamente saudável, que não envergonharia ninguém.»

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