segunda-feira, 3 de abril de 2017

EVGUENI IEVTUCHENKO (1932-2017)


Feliz o título que Ferreira Fernandes escolheu para a sua crónica, de hoje, no Diário de Notícias, sobre a morte de Evtuchenko:


«Morreu Evgueni Ievtuchenko, um poeta do seu tempo. Passou por Lisboa há exatos 50 anos. Era russo, da Sibéria, filho daqueles anos 60 que chegaram até à URSS. Anos que procuravam, não sabendo o quê. Entre 1956 (crítica do XX Congresso comunista a Estaline) e 1968 (invasão da Checoslováquia), a Rússia viveu um pouco disso. O livro Doutor Jivago, de Boris Pasternak, nasceu dessa procura, e o poeta Ievtuchenko, também. Pouco? Ievtuchenko fez esta frase: "Um poeta na Rússia é mais do que um poeta." Um dia, a URSS, condescendente, deixou-o sair. Foi à Espanha de Franco, também condescendente, que o deixou dar um recital, sem anúncios, na igreja dos Capuchinhos, em Barcelona. De lá, Ievtuchenko veio até Fátima, estava cá o Papa Paulo VI. Fez um poema, com versos assim: "O povo arrastava-se", "de joelhos ligados"... Snu Abecassis, que lançava a editora Dom Quixote, convidou-o para um recital de poesia, no teatro Capitólio, em 17 de maio de 1967. Salazar, também condescendente, deixou um papão russo declamar. Ficou um livro dos poemas ditos e um ligeiro incómodo nos comunistas locais, não sabendo bem se o russo estava dentro das normas. Não estava. Quando a URSS ruiu, Evgueni Ievtuchenko apoiou Gorbachev e foi viver para os EUA. No ano passado, voltou a Barcelona e disse: "Quando me perguntam se a Rússia está bem, lembro que ainda há pouco sete mil pessoas ouviram um recital de poesia." Ievtuchenko pediu para ser enterrado ao lado de Pasternak.»

Quando Evtuchenko passou por cá, tinha 20 anos e alinhei num quase generalizado entusiasmo.

Aqui, aqui, aqui e aqui falo dessa passagem.

Estive tentado a chamar a essa visita, um embuste.

Hoje, prefiro escrever que foi um equívoco.

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