sábado, 22 de abril de 2017

QUOTIDIANOS


Durante dez anos Gracinda Rosa foi guarda substituta. Sempre nas passagens de nível em torno da Lamarosa, tendo muitas vezes que percorrer alguns quilómetros pela beira da linha para pegar ao serviço e para regressar a casa. Acompanhava-a o farnel com comida e a garrafa de água, porque alguns dos postos de trabalho onde cumpria turnos de 12 ou 14 horas não tinham sequer um poço. À noite, Gracinda tinha a companhia da lanterna com que fazia sinal aos comboios. De vez em quando, o farol de uma locomotiva varria a escuridão, o comboio passava veloz, e a ferroviária ficava a ver o farol da cauda, a luzinha vermelha a esvair-se na noite. Depois, novamente as trevas.
Dez anos demorou a entrar nos quadros da CP e, mesmo assim, só por ordem do tribunal. «Em 1990 é que entrei para o quadro. Foi o sindicato que tratou de tudo no tribunal. Foi fácil. Entrei para efectiva e ainda recebi uma indemnização».

Carlos Cipriano em Guardas de Passagem de Nível.

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