segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O PRÉMIO QUE VOCÊ ME ARREBATOU...



Numa carta para Sophia, datada de 12 de Julho de 1964, Jorge de Sena continua a manifestar a sua falta de tempo para escrever aos amigos e felicita Sophia pela atribuição do Grande Prémio de Poesia ao Livro Sexto.

… E também para felicitá-la pelo prémio de poesia, que Você me arrebatou… (É uma maneira de dizer, porque aquele júri com alguns comunistóides jamais me premiaria, porque me recusei terminantemente, há muito, nas manobras internacionais «deles», a ser rentável). Eu não esperava ganhar; mas agente sempre acredita em em milagres, por mais céptico que seja. E o meu livro, pelo menos ao que alguns me dizem e eu penso, é uma espécie de milagre. E, a não ganhar eu, desejava ardentemente que ganhasse a Sophia que eu estimo e considero, e não alguns que fazem os versos que eu desdenhei de fazer. Foi isso mesmo o que aconteceu. Para falar francamente, Sophia, eu não acredito que esses sujeitos a admirem sinceramente, e a tenham premiado (uns dois deles, pelo menos) com honesta consciência. Essa gente apenas faz com os vivos, ou tenta fazer, o que tem passado a vida a fazer com os AQUILINOS mais ou menos moribundos. Mas que, neste caso, tenha havido coincidência num nome que é dos maiores da poesia portuguesa contemporânea, eis o que pode considerar-se uma justiça que eles praticaram por coincidência. Isto não significa que eu me tenha convertido ao anti-comunismo de indústria; mas que cheguei à conclusão que nada se pode esperara deles, porque lhes falta o mínimo de ética, para lidarem com pessoas decentes. Sempre os achei assim: mas, às vezes as conveniências forçam uma certa honestidade… e já lhes passou a oportunidade, ou, melhor dizendo, esse oportunismo. Deixemos isso. Mas quero que saiba a que ponto me alegrou que o prémio tenha sido seu.

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